quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Sétimo capítulo do livro "Doce Fruto"

7 – DOCE REALIDADE














- Como vamos resolver isso, tia Nalda?


- Olha, Tuca, temos que pensar direitinho. Não podemos dizer nada a sua mãe. Vamos ver o que o seu namorado vai falar, está muito próximo da volta dele, e...


- Pela primeira vez na vida, estou sentindo muito medo. E agora?


- Calma, Tuca!


- Vocês não deviam ter confiado nessa tal tabelinha. Isso não é de confiança.


- Tia, só me abraça!






Tia Nalda abraçou a sobrinha. Tuca pensava nas conseqüências daquela gravidez. E os pais de Beto? E dona Ana Cecília? E o Beto? Chegar de viagem e dar de cara com uma notícia dessas!


Alguns dias passaram e Beto já estava na sala 511 da universidade. Tuca, ainda em Santa Paz, pensando numa solução para aquele impasse.






- Beto, e a Tuca volta quando? Já estou com saudades daqueles doces – perguntou Clarisse no corredor da universidade.


- Pois é, falei ontem com ela e parece que decidiu prolongar as férias na casa da tal tia Nalda dela.


- Pois é, já quinze dias que começaram as aulas.


- Estou morrendo de saudades daquela baixinha!


- Pois é – falou Clarisse.


- Vocês se falaram muito ao telefone?


- Muitas vezes - respondeu Beto.






Mais alguns dias se passaram e Tuca decide voltar para a capital para revelar sua gravidez a Beto. Para dona Ana Cecília, só revelaria quando tudo estivesse definido com Beto. Casamento? sei lá!


Era um dia ensolarado. O verde das plantas da universidade contagiava. Beto avistou ao longe Tuca e foi ao seu encontro. O mesmo beijo apaixonado voltava a surgir. Nada mais atrapalharia aquele amor. Nada!






- Olha, querido, às onze e quarenta, quando terminar sua aula, preciso conversar com você na barraquinha do caldo de cana.


- Aconteceu alguma coisa? - perguntou Beto com uma expressão assustada.


- Aconteceu, mas não quero falar agora.


- Tudo bem, às onze e quarenta no caldo.






Beijaram-se e Beto saiu um pouco atordoado. O que seria? Algo acontecido em Santa Paz? Que cara Tuca estava fazendo! Será que não me amava mais? Beto pensou em tudo.


Entrou na sala 511 e viu Carla no canto. A professora, para variar, atrasada.


- Roberto! – falou Carla fazendo sinal para que sentasse junto dela.


- Carla, acho que temos que ter uma conversa definitiva. Estamos nos fazendo de bobos, como se nada tivesse acontecido entre nós.


- Pois é, tanto que queríamos que nossa amizade não fosse abalada, mas parece que agora complicou.


- Só porque estamos tímidos ao olharmos um para o outro? – perguntou Beto.


- Roberto, lê esse papel que acabei de pegar no laboratório.






Beto aproximou-se, abriu o papel e leu: Positivo. Suas pernas tremeram.






- Grávida!? De mim?


- Roberto, meu querido, além de continuarmos amigos, vamos também ser marido e mulher.


- Carla! Eu...


- Está feliz?


- Muito, mas, confuso.


- Fiquei também assim que li o exame, mas as coisas já começam a clarear na minha cabeça.


- Como assim?


- Roberto, já estamos muito entrelaçados. Sou sócia da sua mãe, já estamos bem integradas. Luna e eu estamos nos dando muito bem, somos amigos e confidentes.


- Mas nos conhecemos há tão pouco tempo! - falou Beto sem largar o papel do exame.


- Você não quer essa criança?


- Não fujo aos meus compromissos - afirmou Beto.


- O que lhe contraria é a Tuca?


- Só ela.


- Querido, agora tem um bebê em jogo. Não quero te forçar a nada, mas...


- Eu vou assumir essa criança. Carla, nós vamos nos casar. Está decidido - falou Beto nos seus tradicionais impulsos.






Onze e quarenta. Como as coisas na vida mudavam num toque de mágica. Acabar o namoro? É. O namoro. Mas e a paixão? Meu Deus! Que dilema! Tuca já estava sentada em uma das mesinhas do caldo de cana.


Beto estava nervoso. Que conversa difícil seria aquela. Mas ele fora educado para assumir todas as suas responsabilidades. Uma criança estava em jogo. Carla seria sim uma boa companheira. Era mais fácil para ele revelar a todos que iria ser pai do filho de Carla do que dizer que era namoradinho da doceira. Podia ser uma fraqueza, mas Beto sempre correu das coisas mais complicadas, era muito prático.






- Tuca, você queria ter essa conversa comigo, mas eu acho que a conversa será iniciada por mim. Por favor, é muito sério e importante o que tenho a dizer.


- Será que mais sério do que eu tenho também? - perguntou Tuca com uma expressão de choro.


- Tuca, tudo na minha vida aconteceu repentinamente. Vivi anos e anos sem muitas novidades. Me vi universitário, livre de um monte de coisas, te conheci, me apaixonei, andei de ônibus, fui para Nova Iorque, pela primeira vez tive que verdadeiramente encarar um velório...


- Beto, você me conta isso tudo, por quê?


- Estou atordoado, não pense que mudei, que meus sentimentos mudaram, eu...


- Não te entendo. Nova Iorque te mudou em alguma coisa?


- Tuca, nada foi premeditado. Mas é que...


- Beto, por favor, fale-me logo.


- A Carla está esperando um filho meu.






Aquilo foi uma pontada profunda no coração de Tuca. Não teve ação por alguns segundos. Não podia ser! Revelar ou não revelar naquele instante que também esperava um filho seu. Lágrimas!


Aquilo era o fim? Ninguém mais falava naquela mesa? Quem iria ser o primeiro? Falar o quê?






Silêncio de Tuca.


- Não podemos mais levar nossa história adiante.


Tuca continuava em silêncio.


- Não me olha com essa cara, por favor! Não complica mais ainda a minha vida. Tenho que assumir a criança e me casar com ela. Isso é o correto. Olha, Tuca, minha paixão por você continua a mesma, mas... o que você queria me dizer de importante?






O que dizer diante do exposto? Pensar em algo mirabolante e soltar. Era o jeito.






- Mas a minha acabou!


- Paixão?


- Exato! Esse tempo em Santa Paz me fez refletir. Acredita que cheguei hoje na universidade com o sentimento por você um pouco abalado, mas quando te vi, tive a certeza. Não te amo mais. Imediatamente disse que queria conversar com você.


- Então foi melhor assim – falou Beto levantando-se da cadeira.


- É. Seja feliz com a Carla! - teve força ainda para pronunciar isso.


- Obrigado, Tuca. Nunca esquecerei você.


- Não sei se posso dizer o mesmo, Beto. Tchau! - virou-se e derramou uma tímida lágrima.






Cada um tomou o seu destino. E aquele filho? Como seria o desfecho dessa história? Caminhou. Fechou a caixa de doces e saiu dali chorando. Dona Nalda. Só sua tia Nalda poderia resolver esse problema.






- Mas filha, faz pouco tempo que voltasses de Santa Paz. O que vais fazer de novo por lá? Brigou com o Beto? – Interrogou dona Ana Cecília.


- Não. Sabe o que é? A tia Nalda está cheia de encomendas, não está dando conta sozinha. Vou ter que ajudá-la, a disposição dela já não é a mesma de antes. Nesse período que estive por lá, ganhei muito dinheiro, até mais que na universidade, e...


- Isso tá me cheirando a mudança, vais morar com ela e abandonar sua pobre mãe, né?


- Mãe, é só uns meses. É lógico que não vou te abandonar, mas é que a tia Nalda realmente está precisando de mim.


- Tá bom, filha, não vou me sentir só, estou com tanto plantão, passo o dia nos hospitais novos que consegui...


- Parto no final da tarde.


- E o que o Beto acha disso tudo?


- Mãe, você me falou daquilo, mundos diferentes. Sabe, estou começando a perceber isso. Talvez esse tempo em Santa Paz, seja legal para refletirmos sobre nosso namoro.


- Claro, Tuca, te falei isso. Faz o que é melhor para você.






Os dias foram passando e Tuca já estava devidamente instalada em Santa Paz.


A notícia da gravidez de Carla foi aceita com alegria na casa dos Albuquerque e também pela juíza Marta. Todos só respiravam casamento. Os preparativos começaram em ritmo acelerado, para a barriga não crescer e a noiva ficar deslumbrante na pomposa festa.


A LpontoA vestiu quase todas as convidadas, a loja havia tomado outro rumo depois da entrada de Carla. Coleções vindas direto de fornecedores de Nova Iorque. As sócias já estavam pensando numa filial. Dona Lídia decidiu abrir um escritório só para doutor Paulo deixar os sócios de lado. O escritório de doutor Paulo começou com prosperidade e Beto estava o tempo todo metido lá dentro, aprendendo com o pai.


O casamento de Beto foi comentado por todo o Estado e as pessoas que compareceram foram da alta sociedade. Juíza Marta reformou uma casa imensa, que tinha em um bairro nobre e o mais novo casal mudou-se para lá. A lua de mel foi em Veneza. Passado todos esses ritos de casamento, os dois pombinhos voltaram para a doce realidade.






- Acabou a folga, Roberto. Levanta, temos que ir para a universidade – falou Carla olhando o relógio e alisando o cabelo de Beto.


- Foi um sonho. Quinze dias de folga: preparação, casamento, lua de mel...


- Imagina o quanto temos que colocar em dia na universidade - falou Carla.


- Nem me fale, nem me fale.


Prepararam-se, tomaram um farto café da manhã feito por Juliana, uma das empregadas e se dirigiram para a garagem.


- Vou dirigindo, viu mocinha? - falou Beto.


- Que bobagem, Roberto, está tudo bem na gravidez.


- Sim, mas não é bom facilitar.


- Querido, agora não, que estamos só andando em um carro, mas depois que eu tiver neném, vamos ter que comprar um outro automóvel para você. Nossos horários na universidade já estão bastante diferentes, estou fora da blocagem, e...


-É, papai já está me dando uns casos dele e vou tirar um bom dinheiro.


- Pois é, e a filial da LpontoA no Shopping Praia fica pronta mês que vem. É mais dinheiro que entra.


- Você vai administrar essa e mamãe vai ficar com a matriz? - perguntou Beto.


- É, mas o lucro das lojas vão para nós duas igualmente.


- Claro. Achei maravilhosa essa junção sua com a mamãe.


- E a nossa junção? - perguntou Carla com olhos fixos nos olhos do marido.


- Essa foi melhor ainda! – falou Beto dando um beijo na esposa e entrando no carro rumo à universidade.

Sexto capítulo do livro "Doce Fruto"

6 - DOCE VIAGEM








- Meu filho, assim que chegar em Nova Iorque ligue.


- Não se preocupe, Lídia, eu mesmo farei isso. – falou a juíza Marta. Está saindo das mãos de uma mãe para as mãos de outra mãe.Vai ser divertido, Carla e Roberto são muito amigos na universidade.


- Estou um pouco envergonhado de lhe não pagar nada, juíza Marta. – falou doutor Paulo Albuquerque.


- Que bobagem, doutor Paulo, foi um convite meu – disse Carla. - E só as roupas belíssimas que recebi da LpontoA já paga tudo.


- Você gostou mesmo, Carla? - perguntou dona Lídia Albuquerque.


- Claro, dona Lídia, foram feitas para mim.






Depois de todas as despedidas, o luxuoso avião levantou vôo para Nova Iorque.


Era domingo. Tuca estava se balançando na rede, chorando e com o pensamento longe. A notícia da viagem de Beto foi um choque para ela. Convidado por Carla. Não podia ser. E o jeito frio e nervoso que ele a comunicou: “Depois de amanhã vou ter que viajar, meu amor. Estou precisado conhecer como funciona o curso de Direito no exterior. Carla disse que eu entraria no lugar de seu pai na excursão. Não tive como recusar. Saiba que ao voltar, revelaremos a todos que estamos namorando”.


- Filha, não fica assim. É só esse mês de férias. Passa rapidinho. Escuta só. Ele tem que cuidar do futuro dele, se formar, estudar muito, viajar para pesquisar coisas. Ele tem um futuro brilhante pela frente. Ora, Tuca, o namoro não acabou. Acabou?


- Não, mãe. Mas Beto ainda não falou a ninguém que está comigo. Só quem sabe desse namoro é a senhora e Clarisse. Aí chega essa Carla e me afasta dele um mês. Estou insegura.






Na casa dos Albuquerque, dona Lídia pulava de alegria contagiando o marido Paulo e a filha Luna.






- Sei não, mas a doceira é carta fora do baralho. Essa filha do desembargador Feitosa com juíza Marta é encantadora! Você vai ver, Paulo, você vai ver, Luna, o Roberto vai voltar apaixonado.


- Mãe, eles só são colegas, amigos.


- E quem falou para você que ele está de fato namorando essa doceira, Lídia?


- Vendi essa semana, três roupas caríssimas na LpontoA e contratei um detetive. Estão namorando escondido.


- Mamãe, você foi capaz disso? - perguntou Luna encarando a mãe.


- Luna, você não me conhece. Ande na linha comigo.


- Detetive? Tô na mal! - falou doutor Paulo com um risinho irônico.


- Não brinque comigo, doutor Paulo Albuquerque.






Tuca e a mãe ainda conversaram bastante. Chegaram à conclusão que a melhor alternativa naquele momento era esperar aquele longo mês de julho passar e desopilar um pouco.






- Disse a Beto que ia para Santa Paz – falou Tuca a dona Ana Cecília.


- Pois é. Sempre foi assim, você passa férias com a Nalda.


- Mas é que...


- Você deu o número do telefone da sua tia a ele?. - perguntou dona Ana Cecília já um pouco irritada.


- Dei sim.






Tuca foi para o quarto, arrumou uma mochila e dona Ana Cecília ligou para a irmã dizendo que dentro de algumas horas a filha chegaria por lá.


Mãe e filha se abraçaram e Tuca pegou o ônibus para a rodoviária. Dentro de duas horas aproximadamente, estaria em Santa Paz.


Tuca ainda tentou convencer a mãe de viajar com ela, para passar pelo menos o final de semana com a irmã Nalda, mas ela disse que deixasse para outro dia. Preferia ir nas férias de janeiro para uma temporada maior.


Bem distante dali, Beto, Carla e a juíza Marta passeavam pelas ruas de Nova Iorque com o grupo da excursão.






- Acho que sua mãe ia ficar louquinha vendo essas vitrines de roupas maravilhosas. – falou Carla deslumbrada olhando cada loja.


- É - falou Beto sem empolgação.


- Essa menina é louca por roupas. Sei não, não repete uma – falou a juíza Marta.


- Mamãe, é mais ou menos desse time. Quando meu avô colocou a loja para ela, ainda no centro da cidade, ela ficou deslumbrada. Hoje o fogo baixou mais.


- A LpontoA já tem quantos anos?


- Papai e mamãe se casaram e para a mamãe não virar uma mera dona-de-casa, então vovô decidiu colocar essa loja, já tem vinte anos.


- Desculpe a indiscrição, mas dá um bom rendimento, Beto? – perguntou a juíza Marta.


- Sabe, dona Marta, já foi melhor. Hoje só dá para pagar o aluguel do shopping e aos funcionários. Há um ano o sistema é esse.


- Uma loja tão conceituada! – falou a juíza.


- É, mas não tá fácil para ninguém - disse Carla.


- Acho na verdade que precisa de uma injeção de dinheiro, e isso tá complicado - afirmou Beto.


- Imagine se sua mãe tivesse contatos aqui em Nova Iorque e levasse as novidades para lá. Acho que ela precisa de uma injeção de dinheiro, de idéias, de entusiasmo...


- Beto, será que ela aceita uma sociedade? – perguntou a juíza Marta.


- A senhora está interessada, dona Marta?


- Não. Eu dava a injeção de dinheiro que ela precisa e a Carla entra como sócia dando a injeção de idéias e entusiasmo – falou a juíza olhando para a filha.


- Mãe, você faria isso? - perguntou Carla se empolgando cada vez mais com o assunto.


- Mas não é para esquecer os estudos, viu mocinha? Seria só um passatempo e uma maneira de você ganhar dinheiro no que gosta: roupas.






Os três riram bastante e ficaram encantados com a idéia. Beto até sugeriu a mudança do nome da loja com a entrada da nova sócia. Mas Carla descartou dizendo que o nome LpontoA já era uma marca conhecida. Que bobagem mudar nome só porque o L é de Lídia e o A é de Albuquerque. Não tinha importância.






- Só falta a dona Lídia aceitar - falou Carla.


- Acho que aceita, Carla, conheço a mamãe. Ela fará de tudo para manter aquela loja.


- Olha só, que prédio belíssimo, imponente! Coisa de primeiro mundo – apontou a juíza Marta.






Tuca chegou a Santa Paz, depois de uma viagem terrível de ônibus. Rodoviária imunda, pessoas maltrapilhas transitando naquele local. A poucas quadras dali, a humilde casa da sua dona Nalda.


Tuca abriu o portão e sentiu o maravilhoso cheiro de doce cozinhando. O inconfundível aroma da casa de sua tia Nalda.






- Ah! Que cheiro bom! – falou Tuca abrindo a porta da casa da tia e indo em direção a ela.


- Minha filha!


- Tia Nalda, me dá um abraço.






As duas se abraçaram demoradamente. Tia e sobrinha tinham uma admirável afinidade.






- Estou cheia de encomendas de compotas.


- Estou de férias, tia.


- Tem vendido muitos doces?


- Minha clientela na universidade é maravilhosa. Me dou ao luxo de quando os alunos entram de férias, entrar também. É um dinheirinho bom. Graças a você que me ensinou tantas maravilhas.


- Se você não fosse talentosa, não levaria à frente isso.


- E a senhora, com está? - perguntou Tuca alisando os cabelos da tia.


- Indo, minha filha. Fazendo de tudo um pouco para me sustentar. Essa semana entreguei vinte compotas de doces, um enxoval de quarto de bebê e tricotei uma blusa.


- Nossa!


- Para semana que vem, tenho mais um montão de coisas.


- No que puder, eu te ajudo, tia.


- E o namorado?


- O Beto é maravilhoso!


- Já te ligou depois que partiu?


- Ainda não.


- Você está apaixonada, né?


- Tia, tudo aconteceu de uma maneira mágica. Nos conhecemos no ônibus...






Enquanto Nalda mexia os doces, Tuca conversava com ela, contando todos os detalhes do seu namoro com Beto. A tia entusiasmada escutava tudo com atenção. Pelo grau de intimidade que tinha com a sobrinha perguntou de supetão.






- Você perdeu sua virgindade com esse rapaz?


- Não resisti!. Já nos encontramos intimamente três vezes.


- Filha, não é nada de tão grave, mas tome cuidado. Sua mãe está sabendo?


- Confio na senhora, minha madrinha, não diga nada a ela.


- Não digo. Não lembra que já temos bons segredos juntas?


- Pois é, minha tia querida – falou Tuca dando um abraço caloroso em dona Nalda.






Dona Lídia Albuquerque desliga o telefone e chama imediatamente a filha Luna. Estava entusiasmada com o que acabara de escutar.


Começou a dizer a Luna todo o conteúdo daquele telefonema e contou com detalhes a parte que mais lhe agradou.






- Uma sociedade, mãe?


- Não é uma idéia maravilhosa? - perguntou dona Lídia.


- Mas, mãe, você nem conhece direito a Carla, para estar colocando-a como sócia.


- Filha, Luna, me escuta. A Carla é a sua futura cunhada, futura senhora Roberto Albuquerque.


- Que idéia fixa!


- Você vai ver, você vai ver.






Passados quinze dias, Carla chamou Beto para fazer um lanche no barzinho do hotel que estavam hospedados em Nova Iorque.






- Mas ela vai passar o dia inteiro fora?


- O dia todo. Só volta à noite. Mamãe é assim, Roberto, quando dá na veneta. Alugou um carro, imagine você, com aquela senhora bem alva que veio conosco na excursão, saiu pelas redondezas.


- Muito bom! – falou Beto.






Beto sentiu algo estranho. Hormônios? Carla olhava-o de forma insinuante. Alisou o rosto da colega e o coração palpitou. Estava tão longe de Tuca. Por que o bicho homem era assim? Que força estranha era essa? Pensava muito em Tuca naqueles quinze dias. Ligara algumas vezes para ela, mas a distância...


Tentou se controlar. Em vão. Carla não se movia e nada falava. Estava dando certo, sem fazer nenhuma força estava dando certo.






- Não queria estragar nossa amizade – falou Beto olhando firme para Carla.


- Mas estragar!? Nada que você fizer vai estragar nossa amizade.


- Carla, tenho medo!


- Da Tuca. Da sua paixão?


- Gosto muito dela.


- Onde ela está agora?


- Em Santa Paz passando as férias com a tia.


- Roberto, estamos em Nova Iorque, sozinhos, muito longe dela. Olha, façamos o que os nossos corações mandam agora. Depois resolvemos como fica tudo. Gosto muito de você. Você já notou?


- Quero te beijar - falou Beto sem se controlar.






Carla e Beto beijaram-se demoradamente. Subiram para a suíte presidencial e se amaram. Soltos, livres, distantes de tudo e de todos.


Tuca estava na sala da casa de dona Nalda com os pensamentos em Beto. Faltava quinze dias para encontrar o seu amado novamente. Quanta saudade!






- É doce de quê, esse que está no fogo? - perguntou Tuca a sua tia.


- Caju.


- Não gosto do cheiro, muito ativo!


- Ora, Tuca, era o mesmo que você sentiu quando chegou aqui em casa.


- Era?


- Era sim.


- Talvez eu esteja enjoada.


- Enjoada do cheiro de doce!? Para uma profissional do doce, enjoar não pode.


- Tuca, como está sua menstruação? - perguntou dona Nalda preocupada.


- Atrasada.


- Tuca, isso não poderia acontecer. Era exatamente o que sua mãe temia.


- Tia, a senhora está pensando que...


- Temos que fazer o exame para termos a certeza.






E agora? Será que aquilo tudo era verdade? Não podia ser, não agora. Pensava Tuca.







domingo, 15 de agosto de 2010

Reportagem de jornal mencionando a peça "A Liberdade de Amélia"

Reportagem de internet sobre a peça "A Liberdade de Amélia" - Parte II

Reportagem de internet sobre a peça "A Liberdade de Amélia" - Parte I

Quinto capítulo do livro "Doce Fruto"

6 - DOCE VIAGEM






- Meu filho, assim que chegar em Nova Iorque ligue.


- Não se preocupe, Lídia, eu mesmo farei isso. – falou a juíza Marta. Está saindo das mãos de uma mãe para as mãos de outra mãe.Vai ser divertido, Carla e Roberto são muito amigos na universidade.


- Estou um pouco envergonhado de lhe não pagar nada, juíza Marta. – falou doutor Paulo Albuquerque.


- Que bobagem, doutor Paulo, foi um convite meu – disse Carla. - E só as roupas belíssimas que recebi da LpontoA já paga tudo.


- Você gostou mesmo, Carla? - perguntou dona Lídia Albuquerque.


- Claro, dona Lídia, foram feitas para mim.






Depois de todas as despedidas, o luxuoso avião levantou vôo para Nova Iorque.


Era domingo. Tuca estava se balançando na rede, chorando e com o pensamento longe. A notícia da viagem de Beto foi um choque para ela. Convidado por Carla. Não podia ser. E o jeito frio e nervoso que ele a comunicou: “Depois de amanhã vou ter que viajar, meu amor. Estou precisado conhecer como funciona o curso de Direito no exterior. Carla disse que eu entraria no lugar de seu pai na excursão. Não tive como recusar. Saiba que ao voltar, revelaremos a todos que estamos namorando”.


- Filha, não fica assim. É só esse mês de férias. Passa rapidinho. Escuta só. Ele tem que cuidar do futuro dele, se formar, estudar muito, viajar para pesquisar coisas. Ele tem um futuro brilhante pela frente. Ora, Tuca, o namoro não acabou. Acabou?


- Não, mãe. Mas Beto ainda não falou a ninguém que está comigo. Só quem sabe desse namoro é a senhora e Clarisse. Aí chega essa Carla e me afasta dele um mês. Estou insegura.






Na casa dos Albuquerque, dona Lídia pulava de alegria contagiando o marido Paulo e a filha Luna.






- Sei não, mas a doceira é carta fora do baralho. Essa filha do desembargador Feitosa com juíza Marta é encantadora! Você vai ver, Paulo, você vai ver, Luna, o Roberto vai voltar apaixonado.


- Mãe, eles só são colegas, amigos.


- E quem falou para você que ele está de fato namorando essa doceira, Lídia?


- Vendi essa semana, três roupas caríssimas na LpontoA e contratei um detetive. Estão namorando escondido.


- Mamãe, você foi capaz disso? - perguntou Luna encarando a mãe.


- Luna, você não me conhece. Ande na linha comigo.


- Detetive? Tô na mal! - falou doutor Paulo com um risinho irônico.


- Não brinque comigo, doutor Paulo Albuquerque.






Tuca e a mãe ainda conversaram bastante. Chegaram à conclusão que a melhor alternativa naquele momento era esperar aquele longo mês de julho passar e desopilar um pouco.






- Disse a Beto que ia para Santa Paz – falou Tuca a dona Ana Cecília.


- Pois é. Sempre foi assim, você passa férias com a Nalda.


- Mas é que...


- Você deu o número do telefone da sua tia a ele?. - perguntou dona Ana Cecília já um pouco irritada.


- Dei sim.






Tuca foi para o quarto, arrumou uma mochila e dona Ana Cecília ligou para a irmã dizendo que dentro de algumas horas a filha chegaria por lá.


Mãe e filha se abraçaram e Tuca pegou o ônibus para a rodoviária. Dentro de duas horas aproximadamente, estaria em Santa Paz.


Tuca ainda tentou convencer a mãe de viajar com ela, para passar pelo menos o final de semana com a irmã Nalda, mas ela disse que deixasse para outro dia. Preferia ir nas férias de janeiro para uma temporada maior.


Bem distante dali, Beto, Carla e a juíza Marta passeavam pelas ruas de Nova Iorque com o grupo da excursão.






- Acho que sua mãe ia ficar louquinha vendo essas vitrines de roupas maravilhosas. – falou Carla deslumbrada olhando cada loja.


- É - falou Beto sem empolgação.


- Essa menina é louca por roupas. Sei não, não repete uma – falou a juíza Marta.


- Mamãe, é mais ou menos desse time. Quando meu avô colocou a loja para ela, ainda no centro da cidade, ela ficou deslumbrada. Hoje o fogo baixou mais.


- A LpontoA já tem quantos anos?


- Papai e mamãe se casaram e para a mamãe não virar uma mera dona-de-casa, então vovô decidiu colocar essa loja, já tem vinte anos.


- Desculpe a indiscrição, mas dá um bom rendimento, Beto? – perguntou a juíza Marta.


- Sabe, dona Marta, já foi melhor. Hoje só dá para pagar o aluguel do shopping e aos funcionários. Há um ano o sistema é esse.


- Uma loja tão conceituada! – falou a juíza.


- É, mas não tá fácil para ninguém - disse Carla.


- Acho na verdade que precisa de uma injeção de dinheiro, e isso tá complicado - afirmou Beto.


- Imagine se sua mãe tivesse contatos aqui em Nova Iorque e levasse as novidades para lá. Acho que ela precisa de uma injeção de dinheiro, de idéias, de entusiasmo...


- Beto, será que ela aceita uma sociedade? – perguntou a juíza Marta.


- A senhora está interessada, dona Marta?


- Não. Eu dava a injeção de dinheiro que ela precisa e a Carla entra como sócia dando a injeção de idéias e entusiasmo – falou a juíza olhando para a filha.


- Mãe, você faria isso? - perguntou Carla se empolgando cada vez mais com o assunto.


- Mas não é para esquecer os estudos, viu mocinha? Seria só um passatempo e uma maneira de você ganhar dinheiro no que gosta: roupas.






Os três riram bastante e ficaram encantados com a idéia. Beto até sugeriu a mudança do nome da loja com a entrada da nova sócia. Mas Carla descartou dizendo que o nome LpontoA já era uma marca conhecida. Que bobagem mudar nome só porque o L é de Lídia e o A é de Albuquerque. Não tinha importância.






- Só falta a dona Lídia aceitar - falou Carla.


- Acho que aceita, Carla, conheço a mamãe. Ela fará de tudo para manter aquela loja.


- Olha só, que prédio belíssimo, imponente! Coisa de primeiro mundo – apontou a juíza Marta.






Tuca chegou a Santa Paz, depois de uma viagem terrível de ônibus. Rodoviária imunda, pessoas maltrapilhas transitando naquele local. A poucas quadras dali, a humilde casa da sua dona Nalda.


Tuca abriu o portão e sentiu o maravilhoso cheiro de doce cozinhando. O inconfundível aroma da casa de sua tia Nalda.






- Ah! Que cheiro bom! – falou Tuca abrindo a porta da casa da tia e indo em direção a ela.


- Minha filha!


- Tia Nalda, me dá um abraço.






As duas se abraçaram demoradamente. Tia e sobrinha tinham uma admirável afinidade.






- Estou cheia de encomendas de compotas.


- Estou de férias, tia.


- Tem vendido muitos doces?


- Minha clientela na universidade é maravilhosa. Me dou ao luxo de quando os alunos entram de férias, entrar também. É um dinheirinho bom. Graças a você que me ensinou tantas maravilhas.


- Se você não fosse talentosa, não levaria à frente isso.


- E a senhora, com está? - perguntou Tuca alisando os cabelos da tia.


- Indo, minha filha. Fazendo de tudo um pouco para me sustentar. Essa semana entreguei vinte compotas de doces, um enxoval de quarto de bebê e tricotei uma blusa.


- Nossa!


- Para semana que vem, tenho mais um montão de coisas.


- No que puder, eu te ajudo, tia.


- E o namorado?


- O Beto é maravilhoso!


- Já te ligou depois que partiu?


- Ainda não.


- Você está apaixonada, né?


- Tia, tudo aconteceu de uma maneira mágica. Nos conhecemos no ônibus...






Enquanto Nalda mexia os doces, Tuca conversava com ela, contando todos os detalhes do seu namoro com Beto. A tia entusiasmada escutava tudo com atenção. Pelo grau de intimidade que tinha com a sobrinha perguntou de supetão.






- Você perdeu sua virgindade com esse rapaz?


- Não resisti!. Já nos encontramos intimamente três vezes.


- Filha, não é nada de tão grave, mas tome cuidado. Sua mãe está sabendo?


- Confio na senhora, minha madrinha, não diga nada a ela.


- Não digo. Não lembra que já temos bons segredos juntas?


- Pois é, minha tia querida – falou Tuca dando um abraço caloroso em dona Nalda.






Dona Lídia Albuquerque desliga o telefone e chama imediatamente a filha Luna. Estava entusiasmada com o que acabara de escutar.


Começou a dizer a Luna todo o conteúdo daquele telefonema e contou com detalhes a parte que mais lhe agradou.






- Uma sociedade, mãe?


- Não é uma idéia maravilhosa? - perguntou dona Lídia.


- Mas, mãe, você nem conhece direito a Carla, para estar colocando-a como sócia.


- Filha, Luna, me escuta. A Carla é a sua futura cunhada, futura senhora Roberto Albuquerque.


- Que idéia fixa!


- Você vai ver, você vai ver.






Passados quinze dias, Carla chamou Beto para fazer um lanche no barzinho do hotel que estavam hospedados em Nova Iorque.






- Mas ela vai passar o dia inteiro fora?


- O dia todo. Só volta à noite. Mamãe é assim, Roberto, quando dá na veneta. Alugou um carro, imagine você, com aquela senhora bem alva que veio conosco na excursão, saiu pelas redondezas.


- Muito bom! – falou Beto.






Beto sentiu algo estranho. Hormônios? Carla olhava-o de forma insinuante. Alisou o rosto da colega e o coração palpitou. Estava tão longe de Tuca. Por que o bicho homem era assim? Que força estranha era essa? Pensava muito em Tuca naqueles quinze dias. Ligara algumas vezes para ela, mas a distância...


Tentou se controlar. Em vão. Carla não se movia e nada falava. Estava dando certo, sem fazer nenhuma força estava dando certo.






- Não queria estragar nossa amizade – falou Beto olhando firme para Carla.


- Mas estragar!? Nada que você fizer vai estragar nossa amizade.


- Carla, tenho medo!


- Da Tuca. Da sua paixão?


- Gosto muito dela.


- Onde ela está agora?


- Em Santa Paz passando as férias com a tia.


- Roberto, estamos em Nova Iorque, sozinhos, muito longe dela. Olha, façamos o que os nossos corações mandam agora. Depois resolvemos como fica tudo. Gosto muito de você. Você já notou?


- Quero te beijar - falou Beto sem se controlar.






Carla e Beto beijaram-se demoradamente. Subiram para a suíte presidencial e se amaram. Soltos, livres, distantes de tudo e de todos.


Tuca estava na sala da casa de dona Nalda com os pensamentos em Beto. Faltava quinze dias para encontrar o seu amado novamente. Quanta saudade!






- É doce de quê, esse que está no fogo? - perguntou Tuca a sua tia.


- Caju.


- Não gosto do cheiro, muito ativo!


- Ora, Tuca, era o mesmo que você sentiu quando chegou aqui em casa.


- Era?


- Era sim.


- Talvez eu esteja enjoada.


- Enjoada do cheiro de doce!? Para uma profissional do doce, enjoar não pode.


- Tuca, como está sua menstruação? - perguntou dona Nalda preocupada.


- Atrasada.


- Tuca, isso não poderia acontecer. Era exatamente o que sua mãe temia.


- Tia, a senhora está pensando que...


- Temos que fazer o exame para termos a certeza.






E agora? Será que aquilo tudo era verdade? Não podia ser, não agora. Pensava Tuca.

























Teatro

Digamos que estou engatinhando no mundo do teatro. Comecei aos seis anos, nos palcos, atuando na peça "O Mágico de Oz", pelo "Grupo de Teatro Anunciada Fernandes". E fiz outras apresentações como ator...mas meu sonho, verdadeiramente, era escrever para o teatro. Em 2007, fiz uma livre adaptação do livro "São Bernardo" de Graciliano Ramos. O espetáculo foi assistido por inúmeros alunos da capital, pois o livro em questão, era adotado para o concurso Vestibular da UFPB (Universidade Federal da Paraíba). Em 2009, chegou aos palcos o monólogo "A Liberdade de Amélia", escrito por mim e encenado, dirigido e produzido pela atriz paraibana Anunciada Fernandes (comemorando seus 43 anos de palco). Agora em 2010, um grupo teatral paraibano já analisa outro texto meu: "Se..." Vamos ver no que dá!!!!

Quarto capítulo do livro "Doce Fruto"

4 – DOCE AMANHÃ











Sete horas da manhã. Beto ainda dormia. Sexta feira chuvosa. Tudo tão diferente do dia anterior. Perdera já a primeira aula. Abrir os olhos, que dificuldade! Luna entrou no quarto do irmão e começou a falar.
- Beto, já são sete da manhã! Não vai para a universidade? Não é uma pergunta só minha, todos lá embaixo perguntam a mesma coisa. Aliás, a pergunta é também sobre...


- Luna, por favor, deixa primeiro eu me acordar, me situar no tempo e no espaço. Cheguei ontem às dez da noite.


- Ô, mano, desculpa. É que você, às vezes, precisa de tratamentos de choque, para se situar no tempo e no espaço.


- Somos?


- Somos o quê? - olhou Luna admirada para o irmão.


- Namorados?


- Não, somos irmãos.


- Luna, me escuta! Sabe aquela garota que te falei?


- A Carla?


- Eu já te falei da Carla?


- Bebeu foi, Beto?


- Bebi, estou embriagado de paixão.


- Pela Carla, Beto?


- Não! - respondeu Beto pensativo.


- E por quem?


- Não te falei da vendedora de doces?


- Tuca. Falou sim. Mas espera um pouco. Estou confusa! A última notícia que tive sua ontem, foi que você estava no velório do pai da Carla. E você agora me chega dizendo que voltou para casa às dez da noite, e...


- Estava com a Tuca. Fui de fato para o velório do desembargador. Fui com a Tuca e de lá decidi fazer uma programação com ela.


- Com a doceira!?


- Nossa, Luna, nunca achei que fosses desdenhar de mim.


- De jeito nenhum, mano, só que aqui em casa as expectativas eram outras. Mamãe e papai quando souberam que você estava a caminho do velório do desembargador Feitosa, mandaram de imediato uma coroa de flores em nome da família e como você estava demorando a chegar, acharam que você tinha emendado com o enterro e depois com um jantar com a Carla.


- Já querem me casar com a menina?


- Beto, é uma garota de futuro. Sua colega. Do mesmo nível. Acho que a doceira aqui, não vai ter muita vez não.


- É uma pessoa encantadora! Linda! Maravilhosa!


- Mas é uma vendedora de doces.


- Isso também está saindo do seu coração?


- Beto. Você não vai mesmo pra universidade?


- Isso que você acabou de dizer, Luna, é uma frase sua?


- Não, Beto, mas é que fomos criados...


- Somos, robotizados. Temos que ser assim, temos que conduzir dessa forma, para ser feliz a receita é essa...


No mesmo momento, entra no quarto dona Lídia Albuquerque surpreendendo os dois filhos.




- Não tive como não escutar a conversa. Não é do meu feitio, vocês sabem disso, mas, tenha santa paciência! Roberto, levante-se dessa cama, tome um banho que vou te levar para a universidade. Você ainda pega a segunda aula.


- Mãe!


- Esse é o resultado de você se envolver com quem não é do nosso nível.


- Qual é o nosso nível? Papai vive apertado de dinheiro, sua loja no shopping só dá prejuízo, eu ando de ônibus, temos empréstimos aos montes, estamos com contas atrasadas...


- É uma pequena crise, estamos atravessando - falou a pomposa dona Lídia.


- Mãe, vivemos de aparências - afirmou Beto levantando-se da cama.


- Não. Seu pai é um conceituado advogado e a loja vai se recuperar.


- Mãe, vocês construíram esse império, mas não estão conseguindo manter. Olha, vendam essa casa imensa, vendam os carros importados e comprem um popular. Temos que organizar essas contas, eu e a Luna vamos compreender tudo isso. Olha, baixa os preços na boutique. Faz uma bela liquidação...


- Beto!


- É, mãe, olha... – falou Luna.


- Luna, estamos vivendo uma fase, vamos sair disso. Agora, escuta só, Beto, escuta bem sua mãe. Eu e seu pai investimos muito em vocês, nisso tudo que temos. Não nos decepcione. Precisamos ver você juiz e bem casado, um homem de sucesso, um homem brilhante. Foi para isso que te criamos. E você, Luna, vai também escolher uma boa profissão quando chegar a hora e vai fazer um bom casamento. É o mínimo, o mínimo que exigimos de ambos...


- Gravou, Luna – falou Beto ironizando a mãe.


- Isso aí. Não é só para a Luna gravar. Escutei você dizer que saiu ontem com uma vendedora de doces. Tenha dó, se gosta um pouco de mim, vê se esquece essa idéia. Não vou aturar que nada atrapalhe meus sonhos em relação a você.


- Seus sonhos?


- Filho, um dia você vai ser pai e vai compreender que nós temos sonhos em relação aos filhos.


- Mãe, eu sei, mas digamos que se eu namorasse a Tuca, eu não ia deixar de realizar os seus sonhos, que acabaram sendo meus também.


- Nos meus sonhos não estão incluídos um casamento matuto.


- Ela não é matuta.


- É uma vendedora de doces. “O juiz Roberto de Albuquerque e sua esposa Tuca, uma vendedora de doces, estão na festa”... sairia numa coluna social.


- E se a senhora a chamasse para trabalhar na sua boutique? Ela vende como ninguém.


- Quer acabar de afundar a boutique? Já basta aquela lerda da Bibi por lá. Olha, Beto, já falasse muita asneira por hoje. Toma logo esse banho que estou saindo daqui a dez minutos.


- Tá certo, majestade!
Tuca já estava vendendo seus doces pelos corredores da universidade e sempre avistando a sala 511. Beto estava atrasado! Nossa! Nunca aconteceu isso!
- Estou preocupada, Clarisse.


- Ora, que bobagem, deve ainda estar sonhando com o dia que teve ontem.


- Ai, mulher, eu não me canso de pensar. Eu nunca vi espetáculo de circo tão lindo.


- Mesmo que não fosse lindo, mas ao lado da pessoa amada, tudo é encantador.


- Circo Cristal! Lindo, precioso, brilhante, transparente como a paixão.


- E somos? - perguntou Clarisse sorrindo.


- Acho que somos sim. Somos namorados!


- E dona Ana Cecília. Você contou a ela?


- Saímos do circo nove e pouco da noite. Cheguei em casa muito mais de dez. Mamãe me cobriu de perguntas. Falei tudinho pra ela.


- E ela disse o quê? - perguntou a curiosa Clarisse.


- Que tivesse cuidado para não me machucar. O que diz toda mãe. Me machucar!? Esperei dezoito anos por alguém. Tive paquerinhas bestas, mas o Beto é muito especial...


- Posso te dizer uma coisa?


- Pode.


- Cuidado para não se machucar.


- Você é mais mãe do que amiga - olhou séria para o rosto de Clarisse.


- Já tenho idade para isso.


- Mas onde está ele que não chega?


Tuca olha para a sala 511 e avista Beto acabando de entrar para segunda aula. Coração palpitando! De longe se avistaram, sorriram. Aquele era o doce amanhã.


Tuca continuou na sua atividade e sempre de olho na sala 511. Logo mais, seria o intervalo da segunda para a terceira aula. Somos?


Não acreditou ao avistar o final do corredor. Carla. Toda de preto, olhos inchados, cabelo loiro feito um coque. Não podia ser. O pai faleceu ontem?


- Carla, meus sentimentos! Não quis entrar ontem, mas saiba...


- Tudo bem, Tuca. Sabe Deus como estou aqui. Mas tive que vir, não podia deixar para a reposição. No período de repor provas estarei em Nova Iorque, fazendo compras com mamãe.


- Ontem você foi com o Beto?


- É, fomos para o velório de carona com a Clarisse.


- Vou já dar um beijo na Clarisse. Sabe porque o Beto não foi para o enterro? - perguntou Carla.


- Não - empalideceu Tuca sem ter motivos.


Quando Carla saiu, Tuca teve uma sensação estranha. Por que ela não podia dizer aos quatro cantos, principalmente para aquela Carla, que ele era agora o seu namorado. O que impedia?


Dentro da sala 511, Beto não estava atento a nada. Carla entrou, sentou-se ao seu lado e ele continuava apático. Que conversa desagradável tivera com dona Lídia. E durante o caminho para a universidade, mais ladainha!
- Beto! – chamou Carla baixinho para não atrapalhar a aula.


- Oi, Carla. Carla, eu não pude. Olha, depois a gente conversa. Vou anotar isso que o professor tá falando.


Beto queria um pouco mais de tempo para uma desculpa mais bem elaborada. Para que desculpa? Por que não dizer a verdade?


Na casa de Tuca, dona Ana Cecília conversava ao telefone com dona Nalda, sua irmã.


- Tenho medo, Nalda. Conheço quando alguém se apaixona.


- E você achava que Tuca nunca ia se apaixonar?


- Não estou gostando, Nalda, ela saiu aérea hoje para vender os doces.


- Claro. Tu nunca se apaixonou, Ana Cecília?


- Já, pelo Lúcio, pai dela. Deu no que deu.


- Mas, mulher, o homem morreu.


- Pois é, me deixou aqui apaixonada.


- Deixa a menina. Já tem dezoito anos.


- Tenho medo de ser um safado, fazer ela sofrer, imagina ela pegar uma barriga?


- Sei não, Ana Cecília, você depois que saiu de Santa Paz para a capital, ficou muito estressada.


- Tá bom. Vou desligar. Olha, se o negócio apertar por aqui, mando ela pra passar uma temporada contigo.


- Pode mandar, adoro minha sobrinha.


Chegou o tão sonhado intervalo da segunda para a terceira aula. Beto, já menos apático, levanta-se da cadeira com o coração palpitando. Conversar com Tuca e com Carla. Em apenas cinco minutos, resolver dois problemas. Estava mesmo virando adulto. Problemas! Decidiu começar por Carla. Seria mais simples inventar uma desculpa qualquer por não ter ido ao enterro. O quê?


- ... pois então foi isso. Papai ficou furioso, mas era um engarrafamento enorme, não íamos chegar a tempo no enterro. Pegamos outra rua e voltamos para casa.


- Que simpáticos, seus pais iam para lá?


- É, Carla, papai teve um certo contato com seu pai naquele congresso internacional de Direito, que teve aqui há dois anos. Ficaram de uma certa forma amigos.


- Querido, vou ter que ir para a biblioteca agora, tenho que dar uma revisada na prova do quinto horário.


- Decidi repor. Praticamente não estudei - falou Beto.


- Beto, vem revisar comigo na biblioteca, acho melhor você fazer. Dizem que a reposição desse professor é complicada demais. Eu não posso deixar de fazer. No período da reposição estarei longe.


- A viagem continua de pé?


- Está tudo pago. Perdemos a de papai, a agência não vai ressarcir... eles têm razão, mesmo sendo caso de morte, eles se comprometem com hotel, ônibus, companhia aérea.


- Você tem certeza?


- Tá escrito no contrato. Deixa pra lá. Como é, faz ou não faz a prova hoje?


- É. Perco essa terceira aula. Daqui a dez minutos tô lá na biblioteca. Só vou aqui resolver um probleminha.
Beto foi em direção a Tuca que estava vendendo doces no pátio. Esperou um grupinho sair de junto dela e aproximou-se.


- Somos?


- Claro que somos. Se depender de mim, seremos sempre.


- Estou numa felicidade tão grande, que tenho forças para enfrentar batalhões. Nada me sai da mente. A praça, o circo, o sorvete, a pipoca, os beijos, o dia inteiro. - falou Beto com uma expressão de alegria.


- E eu só pensava no dia de hoje.


- Nesse doce amanhã?


- Nesse doce amanhã.

Reportagem de jornal sobre "Doce Fruto" - Parte III

Reportagem de jornal sobre "Doce Fruto" - Parte II

Reportagem de jornal sobre "Doce Fruto" - Parte I

sábado, 7 de agosto de 2010

Curta agora o terceiro capítulo de Doce Fruto















3 - DOCE CANÇÃO





O grande salão de cerimoniais do Tribunal de Justiça estava repleto de flores e de gente. Ao lado do caixão, a viúva juíza Marta e Carla, única filha do casal. O som ambiente tocava uma doce canção instrumental.


Beto ficou atordoado com toda aquela situação e lembrou dos cinco doces. Talvez fosse melhor apenas entregá-los para Carla, do que dizer meus pêsames!


Aproximou-se e tocou nos cabelos da colega, não falou nada, apenas abraçou-a.






- Clarisse está na porta com Tuca e estão um pouco constrangidas de vir até aqui, é um ambiente muito familiar, mas eu não podia deixar de comparecer.


- E eu estou feliz por você estar aqui, estou me sentindo sem chão. Sim, muito obrigado pela coroa de flores.


- A coroa !? - admirou-se Beto.


- A coroa de flores que seu pai, sua mãe e você nos mandou.


- Não há de quê! – falou Beto com a eterna sensação de segurança que seus pais lhe proporcionavam.


- Diga a Tuca e Clarisse que estou mandando um beijo para as duas, mas infelizmente não posso sair do lado da mamãe, ela não está nada bem.


- Não se preocupe, eu dou o recado. Nos encontramos mais tarde, no enterro. Até mais, Carla.






Um sentimento maluco invadiu Beto naquele momento. Perder o pai assim, antes de completar vinte anos de vida, antes de terminar a faculdade. Indefesa! Beto via a colega como alguém que precisava de proteção. Mas namorar Carla, era o remédio? Quanta bagunça em sua cabeça! Vamos por ordem: ir para casa, se arrumar e depois comparecer ao enterro. Carla precisava dele. Mas tinha tanta gente ao seu redor. Vamos reorganizar os pensamentos: sair dali, não ir para casa, convidar Tuca... para quê?






- Tuca, onde está a Clarisse? - perguntou Beto chegando na saleta de espera da central de velórios.


- Acabou de receber um telefonema do coordenador. Teve que ir.


- E você ficou?


- Fiz mal? Vim lhe acompanhando e tinha que ficar por aqui.


- Não quero ir para o enterro. Mas algo lá dentro me diz para ir - falou o eterno confuso Beto.


- Beto, o teu coração diz isso mesmo? - perguntou Tuca olhando com firmeza nos olhos do jovem.


- Tuca, eu não posso ser impulsivo, isso é complicado para minha futura profissão. Tenho que medir cada passo que vou dar.


- Isso é na sua profissão, homem, mas você também é um ser humano, não é o tempo todo profissional.


- Vamos para o circo? - perguntou Beto bruscamente.


- O que é isso?


- Bem, circo é um lugar com formato redondo, coberto por uma lona, e...


- Doutor Roberto, eu sei o que é um circo. Estou perguntando se você com esse convite, está sendo impulsivo.


- É. Estou sendo impulsivo. Não quero ir para o enterro, quero sorrir bem muito com o palhaço, quero estar ao seu lado...


- Parabéns, estamos evoluindo!


- Dona Lídia não diria o mesmo.


- Sua mãe? – perguntou Tuca dando a mão a Beto e se encaminhando para a calçada.


- É. Dona Lídia é osso duro de roer. Sempre exigiu muito de mim. Me deu de tudo, é verdade, mas sempre quis que eu andasse na linha. Mas, sabe, Tuca, estou tão feliz agora. Numa calçada, de mãos dadas com você, indo para...


- Um circo? - perguntou Tuca para ratificar o convite.


- É. Um circo. Foi isso mesmo que eu falei?


- Foi - respondeu Tuca com ar de riso.


- De onde tirei isso? - perguntou Beto com o mesmo ar.


- Do impulso.


- Mas essa hora não tem circo, só no final da tarde.


- Tá vendo aquela pracinha?


- Sim. A gente fica um pouquinho lá, ao meio dia, almoçaremos naquele boteco ali – falou Tuca apontando – Depois tomamos um sorvete e pegamos um ônibus para ir ao circo.


- Eu só tenho a passagem do ônibus de volta para casa – falou Beto contando o dinheiro da carteira.


- Posso patrocinar tudo isso: almoço, sorvete, ônibus e circo?


- Mas, Tuca, o seu apurado vai todo embora. Olha, eu peço tudo ao papai e lhe pago amanhã na universidade.


- Beto. Eu trabalho tanto, tenho às vezes direito de fazer esse tipo de coisa. Para te falar a verdade, eu nunca fiz uma programação assim, mas hoje me bateu a maior vontade. Nada como sentir essa liberdade com alguém que também não a conhece.


- E não conheço mesmo. Sempre estive muito envolvido com livros, estudo... diversão que é bom, nada.


- E eu só trabalho. Somos a companhia perfeita para o dia de hoje - afirmou Tuca.


- E a Carla? - perguntou Beto, ainda inseguro.


- Você passa cinco telegramas para ela hoje, dizendo que por motivos de força maior, não pôde comparecer ao enterro, e...


- Você não esqueceu ainda os cinco doces, né?


- Beto, eu não esqueço absolutamente nada. Olha para mim. Tuca, 18 anos, praça Isaura Bezerra Cavalcanti, onze horas da manhã, clima agradável, começo de uma programação que vai chegar até a noite. Gravou?


- Gravei. Vamos conferir. Beto, 19 anos, diante de uma felicidade nunca sentida. Gravou também?






Beto e Tuca passearam ainda de mãos dadas por aquela imensa praça, olhando as árvores que rodeavam por ali. Decidiram sentar um pouco. Dois corações pulsando. Só se conheciam há poucas semanas, mas todos os encontros foram singulares.


Beijar. Queriam beijar. Talvez um beijo desacelerasse aqueles corações que palpitavam tão fortemente. Sei lá.






- Não fala nada, Beto.






Os lábios se aproximaram.






- Não fala nada, Tuca.






Beijaram-se demoradamente. Naquelas mentes, só o prazer proporcionado pela paixão passeava por ali.






- Pelos poucos dias que te conheço, Beto, já sei qual é a pergunta que deve estar na sua cabeça – falou Tuca com uma voz embriagada de paixão.


- Qual? - indagou Beto.


- E agora? Somos namorados?


- Somos? – perguntou Beto aproximando-se mais uma vez dos lábios de Tuca.


Mais um beijo em meio a toda aquela vegetação. Pergunta sem reposta. Somos?


Depois de alguns minutos, levantaram-se dali e foram almoçar. Após o almoço, um sorvete, mais algumas voltas na praça e finalmente o ônibus. Onde tudo começou.






- Somos?


- Beto, vamos viver esse dia. Vamos ao circo. Vamos depois para as nossas casas e só lá a gente mergulha novamente na nossa realidade.


- Vamos então viver esse sonho, sem pensar que existe amanhã.


- Qual o circo que iremos?


- Tem dois montados. Um na rua Francisco de Melo e outro na José Martins.


- Vamos para o da Francisco de Melo que é maior, mais bonito.


- É o Circo Cristal.


- Pois bem, é esse mesmo.


- Engraçado! Por que a idéia de um circo?


- Sabe, Tuca, a última vez que fui para um, foi no dia do velório de vovô, pai de papai. Então mamãe achou aquilo tudo muito pesado para mim e Luna, então decidiu ir para um circo. Papai até achou meio absurdo, o vô tinha acabado de ser enterrado e a gente ir pra o circo com mamãe. Mas saiba que quando saí do circo, depois de ter visto o palhaço, eu estava me sentido a pessoa mais feliz desse mundo.


- Circo tem essa magia mesmo. A última vez que fui, foi lá em Santa Paz.


- Santa Paz?


- É. Cidade natal da minha família inteira - falou Tuca com o olhar distante.


- Você também nasceu nessa Santa Paz?


- Não. Nasci aqui mesmo na capital, mas o resto da família e toda de lá. Bem, resto é maneira de dizer. Agora lá, só tem a minha madrinha, tia Nalda. Meus avôs maternos morreram, um irmão de mamãe também e só sobrou tia Nalda.


- Já estamos perto do circo? - perguntou Beto.


- Bem pertinho. Quando cruzarmos a Maria Augusta Carvalho já estaremos lá.


- Você conhece tudo pelos nomes, sabe andar a cidade inteira - admirou-se Beto.


- Fui acostumada assim. Sempre andei tudo isso com dona Ana Cecília.


- Sua mãe?


- Minha santa mãe.


- Você não tem pai?


- Não, faleceu cinco dias depois de descobrir que mamãe estava grávida de mim.


- Que pena! Acidente?


- Atropelado!


- Chegamos? - perguntou Beto.


- Pode pedir parada.






A sessão ia começar dentro de dez minutos. Compraram pipocas, refrigerantes... começaram a assistir ao espetáculo. Quanta magia! Quantos beijos. Quanta felicidade!