quarta-feira, 13 de abril de 2011

VEM AÍ MAIS UM LANÇAMENTO DO ESCRITOR BRUCE FERNANDES

Em breve você conhecerá o 6° Romance de Bruce Fernandes:


                                   SONHO DE CADA UM


                                                             AGUARDE!


ÚLTIMO CAPÍTULO DE DOCE FRUTO

20 – DOCE ESPETÁCULO









Todas as luzes se apagaram e apenas um foco acendeu no centro do picadeiro. Palmas, muitas palmas. Nesse foco de luz, surge a apresentadora da noite, a deslumbrante Julinha.






- Respeitável público! Hoje o Circo Cristal está em festa! A sessão é única e exclusiva. Uma grande história de amor será apresentada aqui. Tenho a satisfação de mostrar tudo isso, pois sou a concretização dela. Era uma vez...






O público estava atento a tudo que Julinha dizia. Seus colegas de turma, inclusive Zeza e Aline estavam nas cadeiras, numa expectativa sem tamanho. O juiz Roberto Albuquerque observava tudo com atenção e Tuca, ao lado da mãe e da tia também.






- Um ônibus! Um abençoado ônibus... continuava Julinha.






Nesse momento entra palhaço Pipi com um volante na mão fazendo de conta que estava conduzindo um imenso ônibus.






- Nesse ônibus entrou uma vendedora de doces, que acordava muito cedo para vender suas delícias na universidade. Logo em seguida, um rapaz universitário que estava atônito, sem saber o destino daquele imenso meio de transporte.






Tuca olha imediatamente para a mãe e para tia e não teve como também não olhar para o juiz Roberto, que estava em sua extremidade. Beto percebe a presença de Tuca ali e fica desconsertado. O coração dos dois palpitam como em outrora. A paixão volta a rondar por ali. As lembranças de uma momento tão singelo na vida dos dois.


As luzes em cima do picadeiro ficam vermelhas e entram Flávio e Pat, fazendo os papéis de Tuca e Beto.






- Os dois se conheceram, os dois conversaram, os dois realmente se apaixonaram. E aquele namoro foi lindo! Ah! Paixão de filme romântico... foi uma magia tudo aquilo! Mas como num toque de mágica, acabou. O doce sonho de ficarem para sempre juntos, acabou! Será?






O coração de Tuca acelerou naquele momento. Será que a apresentadora sabia coisas que não podiam ser reveladas? Pouco a pouco o sisudo Roberto dava lugar ao doce Beto, que sempre esteve adormecido aqueles anos.


O gelo seco invadiu o picadeiro. Nada se via por ali. Quando a fumaceira cessou, entra Julinha junto com Pat.


- Não acabou. O amor daqueles jovens estava concretizado em um bebê que estava plantado naquele ventre – falou Julinha alisando a barriga de Pat – uma linda vida pulsava ali, e era o doce fruto daquela paixão.






Beto olhou para Tuca com uma expressão surpresa e dona Ana Cecília pegou a mão da filha, derramando uma lágrima. Dona Nalda estava assustada.






- O papai não ficou sabendo dessa gravidez e na hora da revelação, o jovem acabou o namoro com a doceira. O universitário casou-se com uma colega de sua turma...






Nesse momento entra Fafá e dá a mão a Flávio. Interpretando os papéis de Carla e Beto, respectivamente.






- E a doceira acabou casando-se com um mecânico de sua cidade.






Entra Mau e dá a mão a Pat. Interpretando assim, Zé Bicicleta e Tuca.






- A doceira estava disposta a esquecer sua paixão com o rapaz universitário. Assim que teve sua filhinha, presenteou uma senhora com esse seu doce fruto. Do casamento da doceira com o mecânico nasceu uma linda garota, uma pessoa extraordinária. Gostaria que viesse ao picadeiro essa formosura, chamada Zeza.






Todos aplaudiram, assobiaram e gritaram em coro: “Zeza, Zeza, Zeza...”






- O jovem universitário, que tornou-se juiz de Direito, teve com sua colega de sala, dos tempos da universidade, uma linda filha também. A benevolência em pessoa, a simpática Aline, que também virá até o picadeiro.






Da mesma forma que o público aclamou Zeza, fizeram também com Aline.






- E o doce fruto da paixão da doceira e do rapaz? Sumiu? Evaporou-se no mundo?






De repente cria-se um silêncio no circo. Zeza e Aline, que estão com expressões surpresas se entreolham. Rosa entra iluminada por um foco de luz e Julinha passa o microfone para a mãe adotiva, que logo começa a falar:






- Tuca, Beto, este espetáculo foi feito para vocês. Tive a imensa felicidade, o imenso prazer, de criar durante dezesseis anos o doce fruto da paixão de vocês. Essa linda apresentadora de hoje, a minha, não, a nossa Julinha é o resultado do grande amor que vocês tiveram no passado - falou Rosa quase chorando.


Julinha emocionada dá um abraço na mãe adotiva e logo em seguida nas duas irmãs.


Beto, atônito, como se tivesse pego o ônibus errado, levanta-se e começa a aplaudir sozinho. Todos se contagiam e aplaudem de pé.






- E as surpresas não param por aí. As peças do quebra-cabeça da minha vida, estavam quase todas encaixadas, quando surge uma pecinha que completou tudo. Sabe por quê? Porque eu ganhei um avô também. Eu pedi para ele ficar escondidinho aqui atrás. Mamãe Tuca, vovó Ana Cecília, tia Nalda, venham ao palco receber o meu avôzão Lúcio - emocionou-se Julinha.






Tuca, dona Ana Cecília e dona Nalda levantam-se aos prantos e se dirigem ao picadeiro. O público ainda está de pé e aplaudindo.






- Pai. Ah! Como eu queria chamar alguém assim. Vem também participar dessa festa - falou Julinha olhando para Beto.






Beto levanta-se emocionado também e vai ao picadeiro. Abraça-se com a filha Aline. Tuca está abraçada com a filha Zeza. Ana Cecília abraça-se com tio Lu.


Julinha entrega o microfone para Rosa e vai em direção a Beto e Tuca. Beto larga Aline, Tuca larga Zeza e os dois juntos, de uma só vez, abraçam Julinha.


Julinha deixa o pai e a mãe no centro do picadeiro. Foco de luz ilumina os dois e eles não se controlam e beijam-se na boca. Todos aplaudem.


Julinha pega o microfone e fala mais uma vez.






- O doce espetáculo chegou ao fim, certamente hoje, podemos dizer: ... e foram felizes para sempre.






























FIM















Décimo nono capítulo de Doce Fruto

19 – DOCES PREPARATIVOS









Já era dezembro. Roberto arrumara tudo, e, no outro dia, estaria de partida para uma vida nova. Carla foi chegando da LpontoA e os dois decidiram conversar.






- De malas prontas? - falou Carla observando a expressão de euforia de Roberto.


- Pois é. Estou de partida amanhã às duas da tarde e sexta-feira é minha posse lá em Santa Paz. - falou Roberto com um ar de leveza.


- Rodou, rodou e terminou na cidade da doceira.


- Nem sei mais notícias dela - afirmou Beto.


- Com certeza agora vai ter - falou Carla com um risinho que só ela sabia dar.


- Carla, isso é uma página virada na minha vida - falou Beto tentando acreditar na própria mentira.


- Será? A sensação é que entrei numa guerra e venci a primeira batalha. Mas no final a doceira acabou sendo a vitoriosa - disse Carla se encaminhando para a escadaria.


- Ora, Carla, não venha agora me dizer que nossa vida juntos foi uma batalha, uma guerra...


- Vai, querido, boa sorte! Chegou a hora de colher o que plantou.


- Gostaria de vê-la na posse - falou Roberto de coração.


- Roberto, começa essa nova vida sem a minha presença - falou Carla novamente virando-se de costas e se encaminhando para a escadaria.


- Você me ajudou a ter essa nova vida. Foi uma grande amiga e companheira - afirmou o juiz.


- Esse foi o nosso problema. Fomos só amigos e companheiros, nunca amantes e apaixonados - novamente virando-se para o marido e encarando-o.


- Não se pode dizer isso. Tivemos bons momentos.


- Tivemos grandes momentos como amigos, como confidentes, como pai e mãe da Aline... mas o que eu queria era muito diferente.


- Eu tentei, Carla. Por quase dezessete anos, eu tentei - falou Roberto aproximando-se da esposa.


- Reconheço seu esforço, não vamos brigar por isso.


- Amigos? - estendeu a mão.


- Nunca deixamos de ser - apertou a mão dele.






Aline entra na sala de leitura de Roberto. Os pais estavam um pouco emocionados. Mudaram de assunto e a filha entrega um convite para o pai.






- O que é isso, filha? - perguntou o juiz Roberto Albuquerque.


- Diríamos que é o seu primeiro compromisso como juiz em Santa paz.


- Não entendi, Aline.


- Leia, papai - insistiu a filha.










Excelentíssimo juiz Roberto Albuquerque






Às vinte horas do dia 15 de dezembro (sexta-feira) estaremos apresentando um doce espetáculo no Circo Cristal (montado na cidade de Santa Paz). Contamos com sua grandiosa presença e comunicamos que o senhor é uma peça fundamental para o desenrolar do nosso show.






Assinado: Julinha, Aline e Zeza










- Com certeza estarei lá. A posse será às oito da manhã e às oito da noite, assistirei o seu trabalho com o maior prazer, filha. - falou Roberto alisando os cabelos de Aline.






Deu também um para a mãe. Era estranho um convite para cada um agora. Aline tinha que se acostumar com algumas mudanças.






- Gostaria muito de ir, Aline, mas você sabe que sexta é o fechamento do caixa da semana das lojas, eu... imagine que nem vou poder ir para a posse do seu pai. Mas o Roberto estará na apresentação me representando, né?


- Claro, Carla.


- Gente, já estou me acostumando à separação de vocês. No começo foi duro, mas agora, não precisam mais fazer cerimônia.


- Filha, vamos tentar estar em todas as ocasiões que te diz respeito juntos, mas realmente não serão todas as vezes.


- Não se grilem com isso. Vamos viver essa nova vida felizes.






Os três se abraçam e se emocionaram com aquele momento tão marcante.






Em Santa Paz, Tuca acabara de ler o convite para o doce espetáculo e se emocionara ao ver o local da apresentação: Circo Cristal. Dona Ana Cecília, tia Nalda também receberam individualmente seus convites. Clarisse, Geraldina e sua pequena filha Isaurinha, também. Mas surpresa maior ficou por conta de tio Lu.






- Mas, Julinha, um convite para um espetáculo de circo!? É aquela sua apresentação do colégio? - perguntou o velho mendigo com um sorriso nunca visto naquela face.


- É. Faço questão que o senhor esteja lá.


- Esse pobre mendigo?


- Esse pobre mendigo que eu considero um avôzão.






Tio Lu, ao longo daqueles meses tinha se tornado figura constante na pensão de dona Clarisse. Dona Cida, uma das pensionistas, não tolerava o velho e sempre implicava com o coitado, ameaçando deixar a pensão caso o mendigo aparecesse. Mas pouco a pouco foi se acostumando e tio Lu virou como alguém da família.


Tio Lu pegou o convite e derramou nele uma lágrima. Deu um beijo na testa de Julinha e saiu. Olhou para trás e falou:






- Vou sim, claro que vou prestigiar você, minha querida!















Décimo oitavo capítulo de Doce Fruto

18 – DOCES AJUSTES







Zeza acordou cedo aquela manhã e decidiu fazer uma arrumação em seu quarto. Arrumou o guarda-roupa e começou a organizar as gavetas até chegar na mochila do colégio e na carteira.






- Vó, vó – Zeza chamou dona Ana Cecília que estava na sala.






A avó levanta-se do sofá e foi ver o que a neta queria. Caminhou lentamente pelo corredor e entrou no quarto que estava Zeza.






- Diga, menina.


- Sabe o que é, vó, eu estava organizando minhas coisas e tenho certeza que a foto de mamãe estava nesse bolsinho aqui da mochila. Por um acaso a senhora pegou? - perguntou Zeza temerosa pelas rotineiras respostas grosseiras da avó.


- Tenho mais o que fazer. Deve ter caído pelo colégio, não?


- Não sei. Eu mostrei ontem às minhas duas amigas e tenho certeza que coloquei aqui nesse bolsinho...


- Deve ter caído, deve ter caído - falou dona Ana Cecília saindo do quarto.






Julinha esperou chegar o sábado e pegou um ônibus para a cidade onde estava montado o Circo Cristal, próxima a Santa Paz.


Durante o caminho foi pensando na atitude errada de abrir a bolsa da amiga e pegar a foto de Tuca, mas era por uma boa causa.


Ela tinha que ter a certeza de que as suas suspeitas estavam corretas. E essa certeza quem lhe daria era Rosa.


Desceu do ônibus e caminhou por ali sob um sol escaldante. A foto de Tuca estava em sua mão. Chegou no Circo Cristal.






- Mãe! Mãezinha!






Rosa saiu do trailer sem acreditar que estava ouvindo a voz de Julinha. Abriu a porta e deu um demorado abraço na filha.


As duas conversaram bastante e finalmente Julinha entrou no assunto.






- Mãe, talvez a senhora fique um pouco contrariada, mas é que pra mim isso é muito importante. Não que eu não tenha a minha identidade. Eu sou a filha de Rosa, sou uma pessoa feliz, fui criada por alguém especial, mas é... um dia te disse que não queria saber nada sobre a mulher que me pariu, mas...


- Pode dizer, Julinha. Já estou muito forte em relação a esse assunto - falou Rosa baixando a cabeça e levantando rapidamente.


- Mãe. Essa mulher é a minha mãe biológica? – perguntou Julinha com a foto na mão, mostrando para Rosa.






Rosa fica pasma, estática. Lembrou-se claramente do rosto de Tuca. Não tinha como não ser.






- Julinha! Como você!? - empalideceu.


- Mãe, é ou não é!? – perguntou chorando.


- É ela mesma, a própria. Essa é a moça que fiz o parto há dezesseis anos.






Julinha colocou a foto no peito, baixou a cabeça e chorou. Pronto! Tudo estava concluído. Agora era só apresentar o trabalho de Redação.


Na capital, Roberto recebe uma carta, abre e lê. Sua posse seria no dia quinze de dezembro e a cidade que fora nomeado tinha um nome muito familiar.






- Santa Paz!


- O quê, papai? – espantou-se Aline entrando na sala de leitura do pai.


- Saiu, filha, a cidade que serei juiz.


- Santa Paz!? Mas é a cidade que minha colega mora. A Zeza. Aliás, morava. Agora ela está aqui com a avó. Ela morre de elogiar, diz que é um mimo.


- Pois é, filhona. Vai ser lá que você vai passar suas férias. Lá papai vai construir uma casa bem bacana, para você passar dias maravilhosos


- Você já tinha ouvido falar nessa cidade? Ficou tão espantado!


- Há muito tempo ouvi falar sim. Mas já faz tanto tempo que esse seu velho aqui, já tinha esquecido que existia um lugar que tivesse paz.






Pai e filha se abraçaram e sorriram.

Décimo sétimo capítulo de Doce Fruto

17 – DOCES CONCLUSÕES






Chega o outro dia no Colégio Base. Hora do intervalo e Julinha chama as duas amigas para a biblioteca.






- Escutem só. Quero saber algumas coisas de vocês.


- Nossa, Julinha! Você está parecendo um furacão! – falou Aline.


- Pois é! – exclamou Zeza.


- É que minha cabeça tá um furacão! – falou Julinha olhando para as duas amigas.


- Está confuso fazer a conclusão dos nossos trechos? – quis saber Aline.


- São os textos que estão te deixando assim? – questionou Zeza.


- Estou na fase de junção dos textos e minha conclusão será um surpresa para vocês duas. A propósito, Zeza, você mora aqui na capital com sua avó, né?


- É – respondeu Zeza com um olhar de interrogação para a amiga.


- Qual o nome dela?


- Ana Cecília. - respondeu Zeza.


- Você tem avô? – perguntou Julinha.


- Não, ele faleceu antes da mamãe nascer. Atropelado.


- E como era o nome dele? - perguntou Julinha.


- Lúcio.






Julinha imediatamente pensou. Lúcio! Meus Deus! Por que Deus está colocando tantas coincidências diante de mim? O mendigo! A bendita história do mendigo tio Lu. Lúcio é tio Lu?


Peças de um quebra-cabeça quase que encaixadas por completo. Tuca, mãe de Zeza, doceira desde criança, filha de Ana Cecília e do mendigo tio Lu. Beto, ex-universitário e agora juiz não empossado, que atende pelo nome de Roberto Albuquerque, pai de Aline. Tiveram no passado um caso de paixão ardente. Pensava Julinha. Será?


Mas espera um pouco. Tuca deu a filha desse doce amor que tivera com Beto. Será que essa filha é Zeza e ela não deu essa menina coisa nenhuma? Continuava pensando Julinha.






- Você precisa colocar um detalhe que para mim vai ser fundamental na história, digo, para fazer a conclusão. - falou Julinha olhando firme para Zeza.


- O quê, criatura? – perguntou Zeza.


- Perguntar a dona Tuca, como foi que a tal doceira da história dela deu a criança. Detalhes.


- Tem uma doceira na história de Zeza também? – perguntou Aline.


- Olha, meninas, para o bom andamento do nosso trabalho, preciso que uma não conte a outra sobre o texto que executaram.


- Tudo bem, majestade! – falaram Aline e Zeza em coro.


- Tá certo, falo com a mamãe hoje ao telefone.






Julinha tinha a certeza que tudo estava para ser desvendado. Mas e o doce fruto da união de Beto e Tuca, quem era?


Zeza chegou na casa da avó e imediatamente pegou o telefone para ligar para a mãe. Cumprimentaram-se, mataram um pouquinho a saudade e Zeza então entrou no assunto.






- Mãe, lembra aquela história que você me contou ainda criança, sobre a doceira e o rapaz do ônibus que se apaixonaram? - perguntou Zeza em um só fôlego.


- O que tem essa história? Você ainda lembra disso? Quem te perguntou sobre ela? Sua avó? - interrogou Tuca.


- Calma, mãe, é um trabalho de Redação do colégio.


- E você vai contar essa história?


- Vou. Qual é o problema?


- Nenhum - respondeu Tuca um pouco abalada.


- Eu só queria que a senhora me dissesse uma coisa. Como foi que a tal doceira deu a criança?


- Como foi? Ora, como assim? Dando - quis se livrar logo da história.


- Detalhes, mamãe, o professor exige detalhes - cobrou Zeza.


- Bem. Ela escondeu a gravidez do tal rapaz e teve sua filhinha no meio da rua, numa calçada, digamos assim. Ajudada por uma mulher. Então ela deu essa garotinha para a mulher criar. Pronto a história termina aí.


- Mil beijos, mãe!


- Sim, esqueci de dizer, existia bem perto dali, do lugar do parto, um circo armado. O mesmo que a doceira e o rapaz assistiram no começo do namoro. – falou Tuca mergulhada nas lembranças do passado.


- Beijão, mãe.


- Olha, nada de ficar contando essas bobagens para a sua avó. Você sabe que ela detesta essas histórias compridas.


- Sei. Histórias estabanadas - sorriu Zeza.


- Isso, histórias estabanadas - sorriu Tuca também.






Aline estava deitada em sua cama, descansando um pouco da manhã atribulada, quando Juliana, a fiel governanta, entra no quarto da jovem com o telefone sem fio na mão, dizendo que era a Julinha na linha 1.






- Oi, Ju. Ainda pegada nas histórias? - perguntou Aline com sua suave voz.


- Com certeza! Aline, pergunta a teu pai o nome do circo que os personagens começaram o namoro.


- Tem alguma importância o nome do circo? Julinha, essa história foi inventada pelo papai, o circo não tem nome. Não precisa.


- Tá bom, mas mesmo assim, diz a ele que está fazendo um trabalho com essa história que ele te contou e pede a ele uma sugestão de nome de circo.


- Você vai acabar pirando com esse trabalho de Redação, Julinha.


- Que nada! Só quero chegar a uma doce conclusão.






Na hora do jantar, estavam sentados à mesa, Aline e doutor Roberto Albuquerque. Carla estava ainda na LpontoA. Roberto, depois de um tempo que contou a história para Aline, pediu que a filha não comentasse nada com Carla. Aline obedeceu, mas estranhou aquele pedido. A menina conferiu que a mãe não estava em casa e em voz baixa começou o diálogo com o pai.






- Pai.


- Oi, filhinha. - falou Roberto dando um gole no suco.


- Já saiu o lugar que você vai morar? - perguntou Aline antes de entrar na história.


- Essa semana está saindo.


- Pai, você lembra daquela história que o senhor me contou da doceira e do rapaz do ônibus que se apaixonaram? - baixou ainda mais o tom de voz.


- Perfeitamente, Aline. Nossa historinha secreta.


- Como era o nome do circo que eles começaram o namoro?


- Você vem com cada uma. Aquela história é tão antiga. O circo não tem nome, sei lá, minha filha. - falou Roberto um pouco assustado.


- Diga um nome então qualquer para o circo. Inventa - sorriu Aline.


- Para que isso agora? – perguntou doutor Roberto muito curioso.


- Um trabalho de Redação do Colégio - falou Aline comendo torradas com geléia.


- Sei lá, coloca Circo Cristal. Gostou? - falou Roberto sorrindo e levantando-se da cadeira.


- Cristal! Por que esse nome? - perguntou Aline surpresa.


- Ora, inventei agora - pegou a maleta.


- Mas esse circo existe, sabia? - questionou Aline.


- É? Nem sabia - falou Roberto fazendo pouco caso.


- É o circo que aquela minha colega Julinha, que te falei, foi criada.






Pai e filha ainda conversaram um pouco e o desfecho da conversa foi desagradável para Aline. Roberto colocou sua maleta em uma das cadeiras, sentou novamente no seu habitual lugar e fez uma expressão não habitual.






- Filha, você já tem quase dezesseis anos de idade, já deve compreender esse tipo de coisa.


- Sobre a mamãe que você vai falar? - foi direto ao ponto, já esperando aquela conversa.


- Filha, nós...


- Doutor Roberto, não gaste sua saliva, nem sua adrenalina - falou a amadurecida Aline.


- Pai, sempre notei que você e a mamãe eram mais amigos do que qualquer outra coisa.


- A Carla era uma colega maravilhosa na faculdade. Virou amiga e confidente, fez a sociedade com sua avó e tornou-se a mãe do meu maior tesouro: você - refletiu.


- Tá vendo pai: colega, amiga, sócia, mãe. Nunca escutei você dizendo minha grande paixão, o amor da minha vida - olhou firmemente para o pai.


- Eu estaria mentindo - afirmou Roberto.


- Pois é. Vocês então já devem ter conversado sobre a separação propriamente dita - falou Aline.


- Assim que eu tomar posse na cidade do interior, vou comprar uma casa e me mudar pra lá. Aqui continuará tudo igual: você, sua mãe, a sociedade dela na LpontoA com sua avó, a Juliana para fazer seus gostos, o Rodrigo, nosso motorista...


- Sem você, pai, isso aqui nunca vai ficar tudo igual - levantou-se e deu um abraço em Roberto.






Aline e Roberto ainda conversaram mais um pouco, abraçaram e derramaram algumas lágrimas.


Tuca chegou na casa de dona Nalda um pouco chorosa. A tia estava na cozinha preparando alguns doces.






- É definitivo, tia Nalda - falou Tuca entrando na cozinha da tia.


- Você e o Zé? - perguntou dona Nalda só para confirmar.


- Não dá mais. Ele é um grande companheiro, amigo, excelente pai, mas...


- Você não o ama - afirmou a tia.


- Sabe, tia, foram anos tentando ter um fio de paixão. Amar.


- É difícil, né filha? - olhando firme para a sobrinha.


- Achei que fosse fácil, mas...


- Você vai voltar a morar comigo? - perguntou dona Nalda.


- Posso?


- Claro, Tuca, essa casa sempre esteve aberta para você.


- Olha, tia, quando a Zeza terminar esses estudos na capital, ela decide o que faz da vida dela. Se fica com o Zé, se vem morar conosco, se fica fazendo faculdade pela capital, morando com a mamãe.


- Ela já sabe da separação? - perguntou dona Nalda a Tuca.


- Comecei a contar aos poucos, mas Zé Bicicleta vai ligar hoje e conversar com ela.






Colégio Base, antes das sete da manhã, à espera do toque da primeira aula. Zeza e Aline já conversavam no canto da sala, quando Julinha vai se aproximando das duas.






- Posso entrar na conversa das minhas nobres amigas? - perguntou Julinha.


- Estamos conversando sobre as últimas novidades das nossas casas – falou Aline olhando para Zeza.


- O que houve?


- Meus pais e os pais de Aline estão se separando – falou Zeza com um olhar tristonho.


- Que isso, gente!? Bola pra frente! Vocês tiveram os pais de vocês juntos, por tanto tempo. Curtiram adoidado a família. Agora vão continuar curtindo, só que de outra forma. Já imaginaram vocês que cada uma terá duas casas agora? Gente, fui criada por uma mãe maravilhosa, mas uma mãe adotiva, não tive pai. Meus pais biológicos nem sei o rastro. Estão derramando lágrimas à toa. Ninguém morreu.






As três amigas se abraçaram e sorriram. Nada como uma perfeita amizade.






- Sim, mas não pensem que esqueci do resultado da pesquisa de cada uma – falou Julinha.


- Ai, não agüento mais esse bendito trabalho de Redação! - desabafou Zeza.


- Vou começar. Papai disse que o que me contou era apenas uma história inventada, e... – falou Aline.


- Mas ele deu um nome para o circo da história? – perguntou Julinha.


- Pra se livrar, disse Circo Cristal. Acredita que coincidência! E falou que nem sabia que existia um circo com esse nome – disse Aline.


- Não precisa dizer mais nada – falou Julinha montando mais uma peça do seu quebra-cabeça.


- Bem. A mamãe falou que a doceira escondeu sua gravidez do rapaz e quando estava prestes a ter a criança, avistou uma mulher solitária, no meio da rua e essa mulher que mais parecia um anjo, fez o parto dela numa calçada.


- Como é, Zeza? – espantou-se Julinha.


- E a doceira deu a criança para essa mulher e foi embora - completou Zeza.


- Assim como um anjo! – falou Julinha lembrando da sua história contada por Rosa.


- Sim. Disse que a doceira, antes de ter a criança, olhou para frente e viu um circo armado. Por coincidência o mesmo do começo do namoro dos dois.


- Não posso acreditar! – disse Julinha trêmula – só pode ser uma brincadeira!


- Nossa! Tantas coincidências nessas histórias! – admirou-se Aline.


- Aline, seu pai e minha mãe têm a mesma idade praticamente, então essa é uma história da geração deles. Que os pais deles contaram e eles contaram a gente e agora a gente vai contar para a galera da nossa turma. Não é isso, Julinha? – perguntou Zeza.


- Julinha! - chamou Aline.






Julinha estava muito longe dali. Não tinha mais dúvidas. Tudo estava encaixado. Conseguira sozinha montar um quebra-cabeças completo. Agora essa história já tinha final. E o final, ia ser de qualquer forma, feliz.






- Julinha! – gritavam Zeza e Aline em coro.


- Oi, gente. Desculpa! Eu ouvi tudo que vocês disseram, mas é que eu não estou passando muito bem.






Imagina só! Para quem não sabia rastro nenhum dos pais biológicos, de repente os encontrou ali tão próximos. Eu era o doce fruto de Tuca e Beto. Era filha daquela doceira e do rapaz do ônibus. Pensava Julinha.






- Meninas, escutem só. Não tenho condições de assistir aula hoje, de repente me bateu a maior tontura - falou Julinha levantando-se da cadeira.


- Você quer que eu ligue pro meu motorista te deixar na pensão? – perguntou Aline.


- Não, amiga, vou mesmo a pé. Não se preocupa comigo. Olha só. Posso fazer um pedido para vocês?


- Diga – falou Zeza.


- Eu vou fazer a conclusão da história, né isso? - olhando para Zeza e Aline.


- É – responderam em coro.


- Deixa também eu organizar a apresentação sozinha?


- Mas não vai dar muito trabalho para você? – perguntou Aline.


- Olha, se ficar muito complicado, peço ajuda, mas eu acho que a contribuição de vocês duas já foi maravilhosa.






Julinha se encaminhou para o corredor. Estava zonza. Pensou de imediato que ganhara de uma só vez, um pai, uma mãe, duas irmãs, uma identidade.


Julinha saiu caminhando pelo Colégio Base e avistou o professor de Redação ao longe. Foi ao seu encontro.






- Professor Brian, o prazo máximo da apresentação é dia 15 de dezembro? - perguntou Julinha.


- É. Vocês, inclusive, ainda não agendaram a de vocês. - falou o simpático professor de Redação.


- Pode ser nessa data. Só o grupo da gente? - questionou Julinha.


- Deixa eu ver aqui. – falou professor Brian abrindo sua agenda. Dia 15, sexta-feira. Ninguém colocou essa data, todo mundo agendou datas antes.


- Sabe o que é, vou falar com o diretor, se é possível ele conseguir um ônibus para levar a nossa turma inteira para...


- A apresentação vai ser fora do colégio? – perguntou o professor


- Pode? - sorriu Julinha na expectativa da resposta.


- Se o diretor permitir... onde vocês pretendem fazer?


- Olha, quero fazer uma surpresa para todos vocês. Porque eu tô nascendo hoje e sou a pessoa mais feliz desse mundo.







Décimo sexto capítulo de Doce Fruto

16 – DOCES HISTÓRIAS









Brian, o professor de Redação do primeiro ano do Colégio Base, entrou em sala inspirado aquela manhã. Animado e com um grande projeto em mente, estava louco para passar suas idéias para os seus alunos do primeiro ano.






- Vamos fazer um trabalho diferente. Vai levar um bom tempo de elaboração, mas exijo capricho. Vou primeiro explicar, depois copio tudo no quadro, para não ficar dúvidas. Certo?


- Certo! – alguns do primeiro ano B responderam.


- Pois bem. Em trio – a movimentação tradicional começou para ver quem ficava com quem – Gente! Silêncio! Depois eu deixo vocês escolherem os grupos. Gostaria que o trio elaborasse uma história...


- Meu Deus, lá vem – falou o chato que sempre tem em sala de aula.


- Uma história. Vou fazer de conta que não te escutei - respondeu ao menino - Uma história de amor. Nessa história, um dos componentes do grupo tem que elaborar o começo, outro o desenvolvimento, e, o outro, obviamente o fim.


- Livremente, uma história qualquer? - perguntou Aline.


- Calma, Aline, deixe-me terminar. Então, só quero nessa história de amor, um homem, uma mulher e uma terceira pessoa.


- A amante – falou outro engraçadinho.


- Não necessariamente, meu nobre! Mas se na sua história de amor você quiser falar de traição, esteja a vontade – falou o professor calmamente querendo na verdade esganar o aluno – Pois bem, quero que nessa história apareça um espetáculo qualquer: teatro, show...


- Pode ser circo, professor? - perguntou Julinha.


- Pode.Você vai deitar e rolar nessa história, hein? Mas não vá falar só do seu habitat e esquecer a história de amor, viu?


- Deixa comigo.






O professor ainda passou as coordenadas por um bom tempo. Alguns engraçadinhos atrapalharam bastante, mas finalmente ele concluiu.






- Então tudo está explicado, copiado no quadro, trios definidos. Quero que vocês me apresentem essa história da maneira mais artística que vocês puderem. Quero todos trabalhando. Vai ser minha única nota desse último bimestre. Criem!


O intervalo tocou e Julinha, Aline e Zeza foram para a biblioteca.






- E o professor implicou. Não queria que ficássemos juntas no trabalho – falou Julinha.


- Disse que a gente parecia colada uma na outra – falou Zeza.


- Nos chamou de trigêmeas! – falou Aline sorrindo.


- Então quem fica com o começo da grande história? – perguntou Julinha.


- Eu fico – falou Aline.


- Eu fico com o meio – falou Zeza.


- E eu termino então – disse Julinha.


- Vocês já têm algo em mente. Que história contar? – perguntou Aline.


- Eu já. Uma que minha mãe contou há anos. Pareceu bem comovente e tinha uma terceira pessoa e um circo – falou Zeza.


- Pôxa, a que eu sei é bem legal! – disse Aline


- Foi sua mãe que contou? – perguntou Zeza e Julinha de uma só vez.


- Não! Foi papai – falou Aline sorrindo.


- Pois já estamos em sintonia. De circo sei tudo. Vocês começam a história e eu dou o final. Mas vamos decidir uma coisa. Cada uma faz sem combinar com a outra. Só depois eu junto as partes – discursou Julinha - vamos soltar a criatividade.


- De preferência um final feliz, viu Julinha, por favor! – falou Aline.


- A história que seu pai contou tinha final feliz? – perguntou Julinha a Aline.


- Nem final tinha – riram as três.






Dias e mais dias se passaram. As três garotas estavam empenhadas no projeto mandado pelo professor Brian. Aline começou a lembrar da história do pai e iniciou a escrita. Zeza decidiu fazer a história completa que Tuca havia lhe contado e depois Julinha fazia uma junção das histórias, eliminava algumas coisas, acrescentava outras e dava o esperado final.


E a apresentação? Como seria? Ainda não tinham pensado em nada. E o tempo foi passando.


Dona Clarisse estava na sala da pensão, quando bateram palmas lá fora.






- Quem está aí? - perguntou a dona da pensão que já tinha passado há muito tempo dos seus noventa e três quilos.


- Esmola, pelo amor de Deus! - Uma voz quase sumida vinha lá de fora.






Dona Clarisse abre a porta e vê um velhinho muito maltrapilho. Um coitado.






- Quer um prato de comida, meu velho? - perguntou dona Clarisse.


- Quero, minha filha. O que a senhora tiver. Estou com muita fome! - respondeu o pobre velho.






Clarisse preparou um prato de comida e deu a Geraldina, sua serviçal, para ela entregar ao pobre mendigo.


O velho sentou-se nos batentes do alpendre e começou a devorar a comida. Animal?






- O senhor mora onde? – perguntou Geraldina.


- Na rua, filha, na rua - respondeu o velho de boca cheia.


- Desde criança!? - perguntou mais uma vez.


- Não! Já tive casa, mulher e acho que tenho até um filho também – respondeu o tal velho.


- Acha, meu velho? Por que acha?


- É. Apenas acho - respondeu.


- O que aconteceu com o senhor? Qual o seu nome? - quis saber Geraldina.


- Na rua todos me chamam de tio Lu - fez um ar de riso.


- Mas me diga, por que está nesse estado?


- Eu amava muito minha mulher. Já estava casado há dois anos. Ela chegou dizendo que estava grávida. Eu...


- Eu...


- Tive medo! - falou tio Lu.


- Medo de quê? - questionou Geraldina.


- De assumir aquilo tudo. Medo! Achei que ter um filho era complicado e que, sei lá... medo.


- Então o senhor saiu de casa? - insistiu Geraldina nas perguntas.


- E todo mundo pensa que eu morri, atropelado. Meus amigos foram lá dizer a minha mulher que eu estava estraçalhado, que juntaram meus caquinhos e botaram no caixão. Fugi. Passei anos fora daqui, perambulando, pegando bicos, mas decidi voltar.






Geraldina ficou estarrecida com a história do pobre mendigo. Anos e anos trabalhando na pensão de dona Clarisse. Tantas histórias já ouvira, mas aquela, lhe impressionara bastante.


Julinha foi chegando e ainda escutou parte do relato do tal velho. Que história maluca! Inventar que foi atropelado!






- Quem é? - perguntou o velho a Geraldina.


- É uma das nossas pensionistas - observando Julinha que logo entrou em casa esquecendo de cumprimentar Geraldina e o mendigo.


- Bonita moça! – falou o velho.


- É um doce de menina – disse Geraldina.


- Geraldina, por favor, não precisa me chamar para o jantar - falou Julinha colocando o rosto na janela que dava para o alpendre - Faço um lanche no quarto mesmo. Quero me concentrar para fazer a montagem das histórias que lhe falei aquele dia – disse Julinha.


- Tudo bem! Já está com as histórias de Aline e de Zeza, Julinha?


- Tudo aqui. Quem é a nobre figura? – perguntou Julinha em voz baixa para tio Lu não escutar.


- Um coitado que pediu esmola e dona Clarisse pediu para eu dar um prato de comida. Você escutou que história maluca a dele? Será que está caducando? - perguntou Geraldina também em voz baixa.


- Não tem cara de caduco. Segura esse velho porque se essa nossa história não der certo a gente conta a dele – falou Julinha sorrindo e entrando na pensão.






Dona Clarisse, lá de dentro, falou ao velho que podia aparecer outras vezes para comer. Sempre sobrava comida. O mendigo disse que viria. Ela simpatizou com tio Lu, tinha um olhar bom e de arrependido pelo que tinha feito.


Julinha correu para o seu quarto, trancou a porta, ligou o ventilador e tirou os papéis das amigas de dentro da pasta.


Pegou primeiro a história de Aline e começou a ler.






Um jovem de nome Beto pegou seu habitual transporte coletivo e foi para mais uma rotineira aula na faculdade.


Beto era bonito e esbanjava alegria naquele momento. Decidiu sentar-se ao lado de uma simpática menina que carregava em seu colo uma cestinha de doces.


Os dois começaram a conversar. O nome da garota era Tuca e ela vendia aqueles doces na mesma faculdade que Beto estudava.






- Essa Aline é engraçada! Tuca! Apelido da mãe da Zeza.






Os dois se viam todos os dias na universidade.Começaram a namorar. Que linda paixão! Foram a um circo e consolidaram ali o primeiro dia de namoro dos dois.






Agora é para a minha amiga Zeza colocar o meio.






- Mas espere um pouco. Essa história é muito parecida com a que dona Clarisse me contou. Será que foi algo que aconteceu aqui na capital? Uma lenda? E o final? – pensou Julinha - Deixa eu ler o de Zeza.










Julinha, é tão difícil desenvolver um texto sem começá-lo, que decidi fazer um começo. Veja o que pode fazer para juntar a minha história com a de Aline e depois colocar um final. Beijos Zeza.






- Engraçadinha! E eu que me vire pra juntar essa colcha de retalhos. Lá vai.






Uma garota estava dentro de um ônibus e surgiu um bonito rapaz e sentou-se ao seu lado. A garota era vendedora de doces, o rapaz universitário. Estavam indo para o mesmo destino.


Além da universidade, o destino era a paixão. Se envolveram de imediato e começaram um lindo namoro. Assistiram a um espetáculo circense. A menina, que vendia doces e o rapaz universitário viveram dias de sonhos.






Agora é a minha parte propriamente dita, Julinha: o desenvolvimento.






A garota engravidou do rapaz e ela foi contar a ele. Mas algo mudara entre o casal. Do mesmo jeito que o amor chegou, também partiu.


Ela teve sua filhinha sozinha, não falou nada para o namorado e acabou dando essa filha, que era fruto desse lindo amor.


Ela se julgava cruel por ter dado a filha e o rapaz era alguém muito cruel também por ter terminado aquele namoro.






Foi tudo que pude fazer, Julinha. Continua daí.






- Que brincadeira é essa!? As histórias são parecidas! Elas combinaram!? Mas nós decidimos de não falar uma com a outra sobre nossas criações? – pensou Julinha em voz alta.






Julinha leu as histórias mais uma vez.


- Semelhantes! Coincidem com a história de dona Clarisse! Mas espere um pouco, se não me engano, essa garotinha dos doces e esse rapaz universitário da história de dona Clarisse existiram – ficou Julinha quebrando a cabeça.






Começou a se enrolar cada vez mais. Mas a história de Aline foi contada pelo pai dela, aqui na capital. A história de Zeza foi contada pela mãe, lá em Santa Paz, cidadezinha dela. Espera um pouco. Pensava Julinha.


Pegou o telefone e ligou para Zeza. Precisava saber algo da história.






- Alô, Zeza. Qual os nome dos seus personagens? - perguntou Julinha.


- Você já leu foi? - falou Zeza sorrindo.


- Zeza, por favor!


- E num ficou combinado que quem dava os nomes dos personagens era Aline? - disse Zeza.


- Zeza. Ela deu os nomes. Mas qual os nomes dos seus? Você disse que essa história foi contada por sua mãe, e...


- Olha, quando a mamãe me contou só falou o nome do rapaz: Betinho.


- Tá bom! Olha, não diz nada para a Aline que liguei. A nossa combinação de não comentar as criações ainda está de pé. Beijos! - falou Julinha ainda impressionada com tanta coincidência.


O coração de Julinha disparou. Betinho! Meu Deus, o que é isso? Alguma brincadeira? Beto, Betinho...


Pegou o telefone e ligou imediatamente para Aline. precisava também tirar algumas dúvidas com a amiga. Nem pensava mais em professor, apresentação, nem muito menos em final da história. Só nas malditas coincidências.






- Alô, Aline. É a Julinha.


- Diz, Ju, já leu as histórias? - perguntou a simpática Aline.


- Você combinou alguma coisa com a Zeza? - questionou Julinha.


- Claro que não!


- Olha, sua história está tal qual seu pai contou?


- Do mesmo jeito que papai me contou.


- Sim. Inventou o nome Tuca, fazendo uma homenagem ao nome da mãe de Zeza, certamente.


- Não, Julinha, foi coincidência. O nome da vendedora de doces da história de papai era Tuca mesmo.


- E quem contou essa história para seu Roberto? - perguntou Julinha com curiosidade.


- Agora sim, Julinha, foi uma história que ele ouviu na infância - sorriu Aline.


- Por que tanta pergunta? Tá tão confuso assim fazer o final? - perguntou Aline.


- Que nada! O começo e o meio é que estão complicados! Por enquanto não estou nem pensando no final para essa história. Olha, vou ter que desligar, pois preciso de outras informações. Não fala nada para a Zeza que liguei pra você, olha a nossa combinação!


- Tá certo – falou a obediente Aline.






Julinha foi até a sala da pensão e encontrou dona Clarisse assistido televisão. Desligou e olhou firme para a dona da pensão.






- Me escuta! - em tom de angústia.


- Menina! Tava na melhor parte da novela - reclamou dona Clarisse.


- Desculpa, dona Clarisse, mas eu preciso te perguntar umas coisas - falou Julinha sentando-se ao lado de dona Clarisse.


- Fala, minha doidinha - disse a dona da pensão em tom carinhoso.


- Os nomes? – perguntou Julinha nervosa.


- Nomes de quem? - sem entender.


- Da vendedora de doces que se apaixonou pelo universitário dentro do ônibus.


- Mas meu Deus! Lembrasse dessa história?


- Os nomes, dona Clarisse.


- Ela era Tuca e ele era Beto.


- E essa história existiu? - segurou no braço de dona Clarisse.


- Claro, filha. Presenciei tudo - assustou-se dona Clarisse pelo interrogatório de Julinha.


- E o nome do circo? - implorou.


- Acho que a Tuca nunca me disse o nome do circo que eles começaram o namoro - falou pensativa.


- Nem a senhora tinha me dito que eles haviam começado o namoro no circo.


- Então como você descobriu? - estranhou dona Clarisse.


- Deixa pra lá. Essa Tuca era muito sua amiga? - insistiu Julinha nas perguntas.


- Ô! E como! Vivia comendo os doces dela. E o nome desse rapaz decerto era Roberto – falou Julinha tentando ir mais além.


- Era sim! Roberto Albuquerque.


- Então quer dizer que Roberto Albuquerque é Beto, Betinho?


- Menina. Tenha dó! Aonde você quer chegar? - levantou-se com dificuldade do sofá.


- No final da história, dona Clarisse, no final da história! – falou Julinha indo para a cozinha beber um copo com água - Dona Clarisse, a senhora ainda tem contato com essa doceira da história? - perguntou Julinha voltando da cozinha com o copo na mão.


- Disse a você que nunca mais tive notícias. Nem ela deu notícias, nem eu fui mais atrás.


- O que ela fez, depois que teve a filha desse Beto?


- Num tô dizendo a você que Tuca sumiu no mundo. Fez uma ligação para mim e desse dia pra cá, nem, nem. Ela na verdade vinha ter a filha na capital, ia ficar na minha casa, mas acabou tendo o filho no meio do caminho. Ela não queria dizer a mãe dela que estava grávida, escondeu a barriga os nove meses de dona Ana Cecília.


- E o pai dessa doceira? - perguntou Julinha.


- Tuca não teve pai. Morreu atropelado. Ela ainda estava na barriga da mãe.


- Atropelado! Não conheceu a tal Tuca? Como é o nome desse homem?


- É querer demais, eu sei lá o nome do pai de Tuca!

























Décimo quinto capítulo de Doce Fruto

15 – DOCES PENSAMENTOS








Tuca estava almoçando seu rubacão com Zé Bicicleta. Os pensamentos viajavam. Expressão triste e distante. A vida estava passando, tudo se consumindo, mas a felicidade plena, nada de chegar. Será que era assim mesmo?






- Está pensando em quê, minha linda? - perguntou Zé Bicicleta.


- Na minha filha. Como deve estar? - lembrou-se de Zeza.


- Está bem. Falamos com sua mãe hoje. Está muito feliz.


- Tem coisa que você não sabe – falou Tuca ainda pensativa afastando o prato de comida.


- Não estou te entendendo – falou Zé Bicicleta com a boca cheia.


- Você acha que a minha vida começou só depois que você colocou aquela corrente na minha bicicleta, não é mesmo? - perguntou Tuca olhando para o marido.


- Tuca, já estou atrasado para a oficina, não tenho tempo para conversar muito - falou Zé Bicicleta levantando-se da cadeira.


- Desculpa, Zé. Só estou triste - enxugou uma lágrima que caía.






Tuca ainda ficou naquela mesa por alguns minutos depois da saída do marido. Pensou na filha que abandonou e pensou em Beto. Maldito coração que ainda insistia naquilo.


Levantou-se e foi para o fogão. Muitas encomendas de doces tinha que entregar. Passou na casa da sua tia Nalda, pegou algumas encomendas dela para entregar junto com as suas. Saiu triste. Solitária.


Beto levantou-se do almoço festivo ainda pensativo. Entrou em sua Mercedes e seu pensamento o levou para Tuca, para aquela linda apresentação do Circo Cristal. Saiu triste. Solitário.


Rosa, no circo Cristal, dava banho em um macaco. Fechou os olhos. Parou o que estava fazendo e lembrou-se do sonho que tivera na noite anterior.






- Rosa! - gritou Pat se aproximando da colega.


- Oi, Pat - respondeu Rosa com um olhar distante.


- Estou preocupada com você. O que houve? Mais alguma provocação de Francy? - perguntou Pat.


- Que nada, menina! É que não paro de pensar no sonho que tive essa noite. Sonhei que aquela mulher que pariu a Julinha veio buscá-la aqui no circo - falou Rosa parando de dar o banho do animal.


- Mas você disse que ela nem sabia que você trabalhava aqui. Isso nunca vai acontecer.


- É. Coisas da minha cabeça!Deixa pra lá. Pensamentos!


- É melhor ter pensamentos bons, doces pensamentos - disse Pat.


- É claro. E nada mais doce do que pensar na minha filhona - tentou sorrir.


- Pois é. Pense na menina linda que criaste - tentando animar Rosa.


- Roooooosaaaaaaaaaaaaaaaa!!!! – vinham gritos de dentro do circo.


- Olha só. Pimpo, Maurício e Flávio estão vindo pra cá - admirou-se Rosa.


- E hoje num foi a noite que a gente combinou de fazer aquele churrasquinho, menina - disse Pat.


- Meu Deus, Pat. Já tinha esquecido.






Pat, Rosa, Maurício, Flávio e Pimpo foram para os fundos do circo e fizeram um foguinho. Começaram a comer e beber. Era assim que eles se divertiam.