quarta-feira, 13 de abril de 2011

Décimo nono capítulo de Doce Fruto

19 – DOCES PREPARATIVOS









Já era dezembro. Roberto arrumara tudo, e, no outro dia, estaria de partida para uma vida nova. Carla foi chegando da LpontoA e os dois decidiram conversar.






- De malas prontas? - falou Carla observando a expressão de euforia de Roberto.


- Pois é. Estou de partida amanhã às duas da tarde e sexta-feira é minha posse lá em Santa Paz. - falou Roberto com um ar de leveza.


- Rodou, rodou e terminou na cidade da doceira.


- Nem sei mais notícias dela - afirmou Beto.


- Com certeza agora vai ter - falou Carla com um risinho que só ela sabia dar.


- Carla, isso é uma página virada na minha vida - falou Beto tentando acreditar na própria mentira.


- Será? A sensação é que entrei numa guerra e venci a primeira batalha. Mas no final a doceira acabou sendo a vitoriosa - disse Carla se encaminhando para a escadaria.


- Ora, Carla, não venha agora me dizer que nossa vida juntos foi uma batalha, uma guerra...


- Vai, querido, boa sorte! Chegou a hora de colher o que plantou.


- Gostaria de vê-la na posse - falou Roberto de coração.


- Roberto, começa essa nova vida sem a minha presença - falou Carla novamente virando-se de costas e se encaminhando para a escadaria.


- Você me ajudou a ter essa nova vida. Foi uma grande amiga e companheira - afirmou o juiz.


- Esse foi o nosso problema. Fomos só amigos e companheiros, nunca amantes e apaixonados - novamente virando-se para o marido e encarando-o.


- Não se pode dizer isso. Tivemos bons momentos.


- Tivemos grandes momentos como amigos, como confidentes, como pai e mãe da Aline... mas o que eu queria era muito diferente.


- Eu tentei, Carla. Por quase dezessete anos, eu tentei - falou Roberto aproximando-se da esposa.


- Reconheço seu esforço, não vamos brigar por isso.


- Amigos? - estendeu a mão.


- Nunca deixamos de ser - apertou a mão dele.






Aline entra na sala de leitura de Roberto. Os pais estavam um pouco emocionados. Mudaram de assunto e a filha entrega um convite para o pai.






- O que é isso, filha? - perguntou o juiz Roberto Albuquerque.


- Diríamos que é o seu primeiro compromisso como juiz em Santa paz.


- Não entendi, Aline.


- Leia, papai - insistiu a filha.










Excelentíssimo juiz Roberto Albuquerque






Às vinte horas do dia 15 de dezembro (sexta-feira) estaremos apresentando um doce espetáculo no Circo Cristal (montado na cidade de Santa Paz). Contamos com sua grandiosa presença e comunicamos que o senhor é uma peça fundamental para o desenrolar do nosso show.






Assinado: Julinha, Aline e Zeza










- Com certeza estarei lá. A posse será às oito da manhã e às oito da noite, assistirei o seu trabalho com o maior prazer, filha. - falou Roberto alisando os cabelos de Aline.






Deu também um para a mãe. Era estranho um convite para cada um agora. Aline tinha que se acostumar com algumas mudanças.






- Gostaria muito de ir, Aline, mas você sabe que sexta é o fechamento do caixa da semana das lojas, eu... imagine que nem vou poder ir para a posse do seu pai. Mas o Roberto estará na apresentação me representando, né?


- Claro, Carla.


- Gente, já estou me acostumando à separação de vocês. No começo foi duro, mas agora, não precisam mais fazer cerimônia.


- Filha, vamos tentar estar em todas as ocasiões que te diz respeito juntos, mas realmente não serão todas as vezes.


- Não se grilem com isso. Vamos viver essa nova vida felizes.






Os três se abraçam e se emocionaram com aquele momento tão marcante.






Em Santa Paz, Tuca acabara de ler o convite para o doce espetáculo e se emocionara ao ver o local da apresentação: Circo Cristal. Dona Ana Cecília, tia Nalda também receberam individualmente seus convites. Clarisse, Geraldina e sua pequena filha Isaurinha, também. Mas surpresa maior ficou por conta de tio Lu.






- Mas, Julinha, um convite para um espetáculo de circo!? É aquela sua apresentação do colégio? - perguntou o velho mendigo com um sorriso nunca visto naquela face.


- É. Faço questão que o senhor esteja lá.


- Esse pobre mendigo?


- Esse pobre mendigo que eu considero um avôzão.






Tio Lu, ao longo daqueles meses tinha se tornado figura constante na pensão de dona Clarisse. Dona Cida, uma das pensionistas, não tolerava o velho e sempre implicava com o coitado, ameaçando deixar a pensão caso o mendigo aparecesse. Mas pouco a pouco foi se acostumando e tio Lu virou como alguém da família.


Tio Lu pegou o convite e derramou nele uma lágrima. Deu um beijo na testa de Julinha e saiu. Olhou para trás e falou:






- Vou sim, claro que vou prestigiar você, minha querida!















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