quarta-feira, 13 de abril de 2011

Nono Capítulo do livro Doce Fruto

9 – DOCE COMEÇO










Seria um pouco confuso se dissesse que essa história iria iniciar agora, depois de tantos fatos já terem ocorrido. Mas é verdade, esse é o início. Não, não quero assustá-los de forma alguma, dizendo que tudo o que passou até agora, não teve importância.


Levando em consideração o título dessa história, todos perceberão que o nascimento da nossa protagonista se deu há pouco tempo, em uma calçada imunda. O doce fruto da relação de Beto e Tuca, surge agora nesse universo.


Rosa caminhou alguns metros com sua filha nos braços e foi se dirigindo para o Circo Cristal. Entrou em seu trailer, tirou a secreção que ainda a envolvia e ficou admirando a pequena.


Júlia! Minha Julinha é toda perfeita! Como uma mãe podia abandonar uma criança assim? Na hora do nascimento! Não. Aquela não era mãe da minha Júlia. Eu sou a verdadeira mãe. Pensava Rosa acariciando a menina.


Rosa tinha trinta e dois anos e estava no Circo Cristal desde os doze, quando decidiu seguir viagem autorizada pelos pais. Cuidava dos animais e de vez em quando, entrava em alguns números de dança. Dona de um corpo escultural, graças aos exercícios diários e de madeixas pretas e rosto bonito, vivia esperando o príncipe encantado que nunca chegava.


Júlia iria trazer para sua vida um rumo novo. Decidira não dançar aquela noite, algo lhe dizia que era para ficar fora do circo, que talvez um presente lhe chegasse.


Recomeço de uma vida. Júlia era a solução de sua depressão, aquela que lhe atormentava há anos.


A porta do trailer de Rosa batia naquele momento. A voz, lá de fora, era inconfundível: Flávio.






- Ai, que foi? Que gritaria!! - falou Rosa abrindo a porta.


- Se prepara, Rosa, a Francy vai te pegar! - falou o mágico com uma expressão assustada.


- Me pegar? Pegar como, homem? - falou Rosa com desdém.


- Por que você não entrou no número hoje?


- Porque hoje eu dei a luz. - sorriu.


- Tá maluca, Rosa!


- Olha, Flávio, se tem uma maluca aqui é a Francy. - Disse Rosa apontando para o trailer da patroa.


- Ela pode ser maluca. Ela é a dona.


- É, mas Fafá também é dona e não é maluca.


- Cada um tem seu jeito. - falou Flávio em tom baixo para que só Rosa o escutasse.


- Pois bem, o jeito da Francy é maluco. Doidinha de jogar pedra.


- Que história é essa que você deu a luz?


- Entra aqui para conhecer a Julinha. – falou Rosa puxando Flávio pelo braço para dentro do trailer.


- Meu Deus! O que significa isso? – falou Flávio observando a pequena Júlia. - Mas espera aí, o mágico aqui sou eu. Como você conseguiu dar a luz sem engravidar?


- Flávio, um anjo apareceu na minha frente, tendo contrações. Fiz o parto e logo em seguida ela me deu a criança. Você acredita?


- Não. Quero dizer, acredito, mas não acredito que tenha gente assim no mundo. - falou Flávio confuso. - Você vai mesmo criá-la?


- Tens alguma dúvida disso? Essa é a minha filhinha Júlia.


- Será que a Francy vai querer isso? - perguntou o mágico olhando firme para Rosa.


- Existe aqui o bem e o mau. Tenho que recorrer ao bem primeiro, só assim estarei protegida. Vou falar com a Fafá.






Um pouco distante dali, no apartamento de Roberto Albuquerque, Carla começa a sentir as dores do parto. Aline estava para nascer.


Todos estavam ao redor: Luna, juíza Marta, dona Lídia, doutor Paulo. Roberto apreensivo, sem saber muito o que fazer. Foram em comitiva para maternidade.


Aline Feitosa Albuquerque nasceu simplesmente mimosa, uma princesa. Carla e Beto eram só alegria.


O casal admirava a filha com emoção. Hospital luxuoso, quarto bem decorado, visitas ilustres. Berço esplêndido!


Tuca passou o resto da madrugada em claro pensando em tudo que havia acontecido naquelas últimas horas. Decidiu fazer companhia para a senhora que estava com insônia. Ela já era mãe, mas tinha que se desvencilhar desse sentimento; porque a filha não existia. Era fruto de algo que ainda pulsava muito forte em seu coração, mas tinha que viver o presente. O passado já era passado.









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