quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Sétimo capítulo do livro "Doce Fruto"

7 – DOCE REALIDADE














- Como vamos resolver isso, tia Nalda?


- Olha, Tuca, temos que pensar direitinho. Não podemos dizer nada a sua mãe. Vamos ver o que o seu namorado vai falar, está muito próximo da volta dele, e...


- Pela primeira vez na vida, estou sentindo muito medo. E agora?


- Calma, Tuca!


- Vocês não deviam ter confiado nessa tal tabelinha. Isso não é de confiança.


- Tia, só me abraça!






Tia Nalda abraçou a sobrinha. Tuca pensava nas conseqüências daquela gravidez. E os pais de Beto? E dona Ana Cecília? E o Beto? Chegar de viagem e dar de cara com uma notícia dessas!


Alguns dias passaram e Beto já estava na sala 511 da universidade. Tuca, ainda em Santa Paz, pensando numa solução para aquele impasse.






- Beto, e a Tuca volta quando? Já estou com saudades daqueles doces – perguntou Clarisse no corredor da universidade.


- Pois é, falei ontem com ela e parece que decidiu prolongar as férias na casa da tal tia Nalda dela.


- Pois é, já quinze dias que começaram as aulas.


- Estou morrendo de saudades daquela baixinha!


- Pois é – falou Clarisse.


- Vocês se falaram muito ao telefone?


- Muitas vezes - respondeu Beto.






Mais alguns dias se passaram e Tuca decide voltar para a capital para revelar sua gravidez a Beto. Para dona Ana Cecília, só revelaria quando tudo estivesse definido com Beto. Casamento? sei lá!


Era um dia ensolarado. O verde das plantas da universidade contagiava. Beto avistou ao longe Tuca e foi ao seu encontro. O mesmo beijo apaixonado voltava a surgir. Nada mais atrapalharia aquele amor. Nada!






- Olha, querido, às onze e quarenta, quando terminar sua aula, preciso conversar com você na barraquinha do caldo de cana.


- Aconteceu alguma coisa? - perguntou Beto com uma expressão assustada.


- Aconteceu, mas não quero falar agora.


- Tudo bem, às onze e quarenta no caldo.






Beijaram-se e Beto saiu um pouco atordoado. O que seria? Algo acontecido em Santa Paz? Que cara Tuca estava fazendo! Será que não me amava mais? Beto pensou em tudo.


Entrou na sala 511 e viu Carla no canto. A professora, para variar, atrasada.


- Roberto! – falou Carla fazendo sinal para que sentasse junto dela.


- Carla, acho que temos que ter uma conversa definitiva. Estamos nos fazendo de bobos, como se nada tivesse acontecido entre nós.


- Pois é, tanto que queríamos que nossa amizade não fosse abalada, mas parece que agora complicou.


- Só porque estamos tímidos ao olharmos um para o outro? – perguntou Beto.


- Roberto, lê esse papel que acabei de pegar no laboratório.






Beto aproximou-se, abriu o papel e leu: Positivo. Suas pernas tremeram.






- Grávida!? De mim?


- Roberto, meu querido, além de continuarmos amigos, vamos também ser marido e mulher.


- Carla! Eu...


- Está feliz?


- Muito, mas, confuso.


- Fiquei também assim que li o exame, mas as coisas já começam a clarear na minha cabeça.


- Como assim?


- Roberto, já estamos muito entrelaçados. Sou sócia da sua mãe, já estamos bem integradas. Luna e eu estamos nos dando muito bem, somos amigos e confidentes.


- Mas nos conhecemos há tão pouco tempo! - falou Beto sem largar o papel do exame.


- Você não quer essa criança?


- Não fujo aos meus compromissos - afirmou Beto.


- O que lhe contraria é a Tuca?


- Só ela.


- Querido, agora tem um bebê em jogo. Não quero te forçar a nada, mas...


- Eu vou assumir essa criança. Carla, nós vamos nos casar. Está decidido - falou Beto nos seus tradicionais impulsos.






Onze e quarenta. Como as coisas na vida mudavam num toque de mágica. Acabar o namoro? É. O namoro. Mas e a paixão? Meu Deus! Que dilema! Tuca já estava sentada em uma das mesinhas do caldo de cana.


Beto estava nervoso. Que conversa difícil seria aquela. Mas ele fora educado para assumir todas as suas responsabilidades. Uma criança estava em jogo. Carla seria sim uma boa companheira. Era mais fácil para ele revelar a todos que iria ser pai do filho de Carla do que dizer que era namoradinho da doceira. Podia ser uma fraqueza, mas Beto sempre correu das coisas mais complicadas, era muito prático.






- Tuca, você queria ter essa conversa comigo, mas eu acho que a conversa será iniciada por mim. Por favor, é muito sério e importante o que tenho a dizer.


- Será que mais sério do que eu tenho também? - perguntou Tuca com uma expressão de choro.


- Tuca, tudo na minha vida aconteceu repentinamente. Vivi anos e anos sem muitas novidades. Me vi universitário, livre de um monte de coisas, te conheci, me apaixonei, andei de ônibus, fui para Nova Iorque, pela primeira vez tive que verdadeiramente encarar um velório...


- Beto, você me conta isso tudo, por quê?


- Estou atordoado, não pense que mudei, que meus sentimentos mudaram, eu...


- Não te entendo. Nova Iorque te mudou em alguma coisa?


- Tuca, nada foi premeditado. Mas é que...


- Beto, por favor, fale-me logo.


- A Carla está esperando um filho meu.






Aquilo foi uma pontada profunda no coração de Tuca. Não teve ação por alguns segundos. Não podia ser! Revelar ou não revelar naquele instante que também esperava um filho seu. Lágrimas!


Aquilo era o fim? Ninguém mais falava naquela mesa? Quem iria ser o primeiro? Falar o quê?






Silêncio de Tuca.


- Não podemos mais levar nossa história adiante.


Tuca continuava em silêncio.


- Não me olha com essa cara, por favor! Não complica mais ainda a minha vida. Tenho que assumir a criança e me casar com ela. Isso é o correto. Olha, Tuca, minha paixão por você continua a mesma, mas... o que você queria me dizer de importante?






O que dizer diante do exposto? Pensar em algo mirabolante e soltar. Era o jeito.






- Mas a minha acabou!


- Paixão?


- Exato! Esse tempo em Santa Paz me fez refletir. Acredita que cheguei hoje na universidade com o sentimento por você um pouco abalado, mas quando te vi, tive a certeza. Não te amo mais. Imediatamente disse que queria conversar com você.


- Então foi melhor assim – falou Beto levantando-se da cadeira.


- É. Seja feliz com a Carla! - teve força ainda para pronunciar isso.


- Obrigado, Tuca. Nunca esquecerei você.


- Não sei se posso dizer o mesmo, Beto. Tchau! - virou-se e derramou uma tímida lágrima.






Cada um tomou o seu destino. E aquele filho? Como seria o desfecho dessa história? Caminhou. Fechou a caixa de doces e saiu dali chorando. Dona Nalda. Só sua tia Nalda poderia resolver esse problema.






- Mas filha, faz pouco tempo que voltasses de Santa Paz. O que vais fazer de novo por lá? Brigou com o Beto? – Interrogou dona Ana Cecília.


- Não. Sabe o que é? A tia Nalda está cheia de encomendas, não está dando conta sozinha. Vou ter que ajudá-la, a disposição dela já não é a mesma de antes. Nesse período que estive por lá, ganhei muito dinheiro, até mais que na universidade, e...


- Isso tá me cheirando a mudança, vais morar com ela e abandonar sua pobre mãe, né?


- Mãe, é só uns meses. É lógico que não vou te abandonar, mas é que a tia Nalda realmente está precisando de mim.


- Tá bom, filha, não vou me sentir só, estou com tanto plantão, passo o dia nos hospitais novos que consegui...


- Parto no final da tarde.


- E o que o Beto acha disso tudo?


- Mãe, você me falou daquilo, mundos diferentes. Sabe, estou começando a perceber isso. Talvez esse tempo em Santa Paz, seja legal para refletirmos sobre nosso namoro.


- Claro, Tuca, te falei isso. Faz o que é melhor para você.






Os dias foram passando e Tuca já estava devidamente instalada em Santa Paz.


A notícia da gravidez de Carla foi aceita com alegria na casa dos Albuquerque e também pela juíza Marta. Todos só respiravam casamento. Os preparativos começaram em ritmo acelerado, para a barriga não crescer e a noiva ficar deslumbrante na pomposa festa.


A LpontoA vestiu quase todas as convidadas, a loja havia tomado outro rumo depois da entrada de Carla. Coleções vindas direto de fornecedores de Nova Iorque. As sócias já estavam pensando numa filial. Dona Lídia decidiu abrir um escritório só para doutor Paulo deixar os sócios de lado. O escritório de doutor Paulo começou com prosperidade e Beto estava o tempo todo metido lá dentro, aprendendo com o pai.


O casamento de Beto foi comentado por todo o Estado e as pessoas que compareceram foram da alta sociedade. Juíza Marta reformou uma casa imensa, que tinha em um bairro nobre e o mais novo casal mudou-se para lá. A lua de mel foi em Veneza. Passado todos esses ritos de casamento, os dois pombinhos voltaram para a doce realidade.






- Acabou a folga, Roberto. Levanta, temos que ir para a universidade – falou Carla olhando o relógio e alisando o cabelo de Beto.


- Foi um sonho. Quinze dias de folga: preparação, casamento, lua de mel...


- Imagina o quanto temos que colocar em dia na universidade - falou Carla.


- Nem me fale, nem me fale.


Prepararam-se, tomaram um farto café da manhã feito por Juliana, uma das empregadas e se dirigiram para a garagem.


- Vou dirigindo, viu mocinha? - falou Beto.


- Que bobagem, Roberto, está tudo bem na gravidez.


- Sim, mas não é bom facilitar.


- Querido, agora não, que estamos só andando em um carro, mas depois que eu tiver neném, vamos ter que comprar um outro automóvel para você. Nossos horários na universidade já estão bastante diferentes, estou fora da blocagem, e...


-É, papai já está me dando uns casos dele e vou tirar um bom dinheiro.


- Pois é, e a filial da LpontoA no Shopping Praia fica pronta mês que vem. É mais dinheiro que entra.


- Você vai administrar essa e mamãe vai ficar com a matriz? - perguntou Beto.


- É, mas o lucro das lojas vão para nós duas igualmente.


- Claro. Achei maravilhosa essa junção sua com a mamãe.


- E a nossa junção? - perguntou Carla com olhos fixos nos olhos do marido.


- Essa foi melhor ainda! – falou Beto dando um beijo na esposa e entrando no carro rumo à universidade.

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