quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Sexto capítulo do livro "Doce Fruto"

6 - DOCE VIAGEM








- Meu filho, assim que chegar em Nova Iorque ligue.


- Não se preocupe, Lídia, eu mesmo farei isso. – falou a juíza Marta. Está saindo das mãos de uma mãe para as mãos de outra mãe.Vai ser divertido, Carla e Roberto são muito amigos na universidade.


- Estou um pouco envergonhado de lhe não pagar nada, juíza Marta. – falou doutor Paulo Albuquerque.


- Que bobagem, doutor Paulo, foi um convite meu – disse Carla. - E só as roupas belíssimas que recebi da LpontoA já paga tudo.


- Você gostou mesmo, Carla? - perguntou dona Lídia Albuquerque.


- Claro, dona Lídia, foram feitas para mim.






Depois de todas as despedidas, o luxuoso avião levantou vôo para Nova Iorque.


Era domingo. Tuca estava se balançando na rede, chorando e com o pensamento longe. A notícia da viagem de Beto foi um choque para ela. Convidado por Carla. Não podia ser. E o jeito frio e nervoso que ele a comunicou: “Depois de amanhã vou ter que viajar, meu amor. Estou precisado conhecer como funciona o curso de Direito no exterior. Carla disse que eu entraria no lugar de seu pai na excursão. Não tive como recusar. Saiba que ao voltar, revelaremos a todos que estamos namorando”.


- Filha, não fica assim. É só esse mês de férias. Passa rapidinho. Escuta só. Ele tem que cuidar do futuro dele, se formar, estudar muito, viajar para pesquisar coisas. Ele tem um futuro brilhante pela frente. Ora, Tuca, o namoro não acabou. Acabou?


- Não, mãe. Mas Beto ainda não falou a ninguém que está comigo. Só quem sabe desse namoro é a senhora e Clarisse. Aí chega essa Carla e me afasta dele um mês. Estou insegura.






Na casa dos Albuquerque, dona Lídia pulava de alegria contagiando o marido Paulo e a filha Luna.






- Sei não, mas a doceira é carta fora do baralho. Essa filha do desembargador Feitosa com juíza Marta é encantadora! Você vai ver, Paulo, você vai ver, Luna, o Roberto vai voltar apaixonado.


- Mãe, eles só são colegas, amigos.


- E quem falou para você que ele está de fato namorando essa doceira, Lídia?


- Vendi essa semana, três roupas caríssimas na LpontoA e contratei um detetive. Estão namorando escondido.


- Mamãe, você foi capaz disso? - perguntou Luna encarando a mãe.


- Luna, você não me conhece. Ande na linha comigo.


- Detetive? Tô na mal! - falou doutor Paulo com um risinho irônico.


- Não brinque comigo, doutor Paulo Albuquerque.






Tuca e a mãe ainda conversaram bastante. Chegaram à conclusão que a melhor alternativa naquele momento era esperar aquele longo mês de julho passar e desopilar um pouco.






- Disse a Beto que ia para Santa Paz – falou Tuca a dona Ana Cecília.


- Pois é. Sempre foi assim, você passa férias com a Nalda.


- Mas é que...


- Você deu o número do telefone da sua tia a ele?. - perguntou dona Ana Cecília já um pouco irritada.


- Dei sim.






Tuca foi para o quarto, arrumou uma mochila e dona Ana Cecília ligou para a irmã dizendo que dentro de algumas horas a filha chegaria por lá.


Mãe e filha se abraçaram e Tuca pegou o ônibus para a rodoviária. Dentro de duas horas aproximadamente, estaria em Santa Paz.


Tuca ainda tentou convencer a mãe de viajar com ela, para passar pelo menos o final de semana com a irmã Nalda, mas ela disse que deixasse para outro dia. Preferia ir nas férias de janeiro para uma temporada maior.


Bem distante dali, Beto, Carla e a juíza Marta passeavam pelas ruas de Nova Iorque com o grupo da excursão.






- Acho que sua mãe ia ficar louquinha vendo essas vitrines de roupas maravilhosas. – falou Carla deslumbrada olhando cada loja.


- É - falou Beto sem empolgação.


- Essa menina é louca por roupas. Sei não, não repete uma – falou a juíza Marta.


- Mamãe, é mais ou menos desse time. Quando meu avô colocou a loja para ela, ainda no centro da cidade, ela ficou deslumbrada. Hoje o fogo baixou mais.


- A LpontoA já tem quantos anos?


- Papai e mamãe se casaram e para a mamãe não virar uma mera dona-de-casa, então vovô decidiu colocar essa loja, já tem vinte anos.


- Desculpe a indiscrição, mas dá um bom rendimento, Beto? – perguntou a juíza Marta.


- Sabe, dona Marta, já foi melhor. Hoje só dá para pagar o aluguel do shopping e aos funcionários. Há um ano o sistema é esse.


- Uma loja tão conceituada! – falou a juíza.


- É, mas não tá fácil para ninguém - disse Carla.


- Acho na verdade que precisa de uma injeção de dinheiro, e isso tá complicado - afirmou Beto.


- Imagine se sua mãe tivesse contatos aqui em Nova Iorque e levasse as novidades para lá. Acho que ela precisa de uma injeção de dinheiro, de idéias, de entusiasmo...


- Beto, será que ela aceita uma sociedade? – perguntou a juíza Marta.


- A senhora está interessada, dona Marta?


- Não. Eu dava a injeção de dinheiro que ela precisa e a Carla entra como sócia dando a injeção de idéias e entusiasmo – falou a juíza olhando para a filha.


- Mãe, você faria isso? - perguntou Carla se empolgando cada vez mais com o assunto.


- Mas não é para esquecer os estudos, viu mocinha? Seria só um passatempo e uma maneira de você ganhar dinheiro no que gosta: roupas.






Os três riram bastante e ficaram encantados com a idéia. Beto até sugeriu a mudança do nome da loja com a entrada da nova sócia. Mas Carla descartou dizendo que o nome LpontoA já era uma marca conhecida. Que bobagem mudar nome só porque o L é de Lídia e o A é de Albuquerque. Não tinha importância.






- Só falta a dona Lídia aceitar - falou Carla.


- Acho que aceita, Carla, conheço a mamãe. Ela fará de tudo para manter aquela loja.


- Olha só, que prédio belíssimo, imponente! Coisa de primeiro mundo – apontou a juíza Marta.






Tuca chegou a Santa Paz, depois de uma viagem terrível de ônibus. Rodoviária imunda, pessoas maltrapilhas transitando naquele local. A poucas quadras dali, a humilde casa da sua dona Nalda.


Tuca abriu o portão e sentiu o maravilhoso cheiro de doce cozinhando. O inconfundível aroma da casa de sua tia Nalda.






- Ah! Que cheiro bom! – falou Tuca abrindo a porta da casa da tia e indo em direção a ela.


- Minha filha!


- Tia Nalda, me dá um abraço.






As duas se abraçaram demoradamente. Tia e sobrinha tinham uma admirável afinidade.






- Estou cheia de encomendas de compotas.


- Estou de férias, tia.


- Tem vendido muitos doces?


- Minha clientela na universidade é maravilhosa. Me dou ao luxo de quando os alunos entram de férias, entrar também. É um dinheirinho bom. Graças a você que me ensinou tantas maravilhas.


- Se você não fosse talentosa, não levaria à frente isso.


- E a senhora, com está? - perguntou Tuca alisando os cabelos da tia.


- Indo, minha filha. Fazendo de tudo um pouco para me sustentar. Essa semana entreguei vinte compotas de doces, um enxoval de quarto de bebê e tricotei uma blusa.


- Nossa!


- Para semana que vem, tenho mais um montão de coisas.


- No que puder, eu te ajudo, tia.


- E o namorado?


- O Beto é maravilhoso!


- Já te ligou depois que partiu?


- Ainda não.


- Você está apaixonada, né?


- Tia, tudo aconteceu de uma maneira mágica. Nos conhecemos no ônibus...






Enquanto Nalda mexia os doces, Tuca conversava com ela, contando todos os detalhes do seu namoro com Beto. A tia entusiasmada escutava tudo com atenção. Pelo grau de intimidade que tinha com a sobrinha perguntou de supetão.






- Você perdeu sua virgindade com esse rapaz?


- Não resisti!. Já nos encontramos intimamente três vezes.


- Filha, não é nada de tão grave, mas tome cuidado. Sua mãe está sabendo?


- Confio na senhora, minha madrinha, não diga nada a ela.


- Não digo. Não lembra que já temos bons segredos juntas?


- Pois é, minha tia querida – falou Tuca dando um abraço caloroso em dona Nalda.






Dona Lídia Albuquerque desliga o telefone e chama imediatamente a filha Luna. Estava entusiasmada com o que acabara de escutar.


Começou a dizer a Luna todo o conteúdo daquele telefonema e contou com detalhes a parte que mais lhe agradou.






- Uma sociedade, mãe?


- Não é uma idéia maravilhosa? - perguntou dona Lídia.


- Mas, mãe, você nem conhece direito a Carla, para estar colocando-a como sócia.


- Filha, Luna, me escuta. A Carla é a sua futura cunhada, futura senhora Roberto Albuquerque.


- Que idéia fixa!


- Você vai ver, você vai ver.






Passados quinze dias, Carla chamou Beto para fazer um lanche no barzinho do hotel que estavam hospedados em Nova Iorque.






- Mas ela vai passar o dia inteiro fora?


- O dia todo. Só volta à noite. Mamãe é assim, Roberto, quando dá na veneta. Alugou um carro, imagine você, com aquela senhora bem alva que veio conosco na excursão, saiu pelas redondezas.


- Muito bom! – falou Beto.






Beto sentiu algo estranho. Hormônios? Carla olhava-o de forma insinuante. Alisou o rosto da colega e o coração palpitou. Estava tão longe de Tuca. Por que o bicho homem era assim? Que força estranha era essa? Pensava muito em Tuca naqueles quinze dias. Ligara algumas vezes para ela, mas a distância...


Tentou se controlar. Em vão. Carla não se movia e nada falava. Estava dando certo, sem fazer nenhuma força estava dando certo.






- Não queria estragar nossa amizade – falou Beto olhando firme para Carla.


- Mas estragar!? Nada que você fizer vai estragar nossa amizade.


- Carla, tenho medo!


- Da Tuca. Da sua paixão?


- Gosto muito dela.


- Onde ela está agora?


- Em Santa Paz passando as férias com a tia.


- Roberto, estamos em Nova Iorque, sozinhos, muito longe dela. Olha, façamos o que os nossos corações mandam agora. Depois resolvemos como fica tudo. Gosto muito de você. Você já notou?


- Quero te beijar - falou Beto sem se controlar.






Carla e Beto beijaram-se demoradamente. Subiram para a suíte presidencial e se amaram. Soltos, livres, distantes de tudo e de todos.


Tuca estava na sala da casa de dona Nalda com os pensamentos em Beto. Faltava quinze dias para encontrar o seu amado novamente. Quanta saudade!






- É doce de quê, esse que está no fogo? - perguntou Tuca a sua tia.


- Caju.


- Não gosto do cheiro, muito ativo!


- Ora, Tuca, era o mesmo que você sentiu quando chegou aqui em casa.


- Era?


- Era sim.


- Talvez eu esteja enjoada.


- Enjoada do cheiro de doce!? Para uma profissional do doce, enjoar não pode.


- Tuca, como está sua menstruação? - perguntou dona Nalda preocupada.


- Atrasada.


- Tuca, isso não poderia acontecer. Era exatamente o que sua mãe temia.


- Tia, a senhora está pensando que...


- Temos que fazer o exame para termos a certeza.






E agora? Será que aquilo tudo era verdade? Não podia ser, não agora. Pensava Tuca.







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